Título: Enem dará opção para 5 cursos
Autor: Paraguassú, Lisandra; Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2009, Vida&, p. A17

Com novo exame, aluno poderá pleitear vagas em várias universidades; federal que aderir receberá mais verba

Lisandra Paraguassú e Clarissa Thomé

O novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que pode ser uma espécie de supervestibular unificado das universidades federais, dará a oportunidade aos estudantes de tentar, com o resultado de uma mesma prova, cinco diferentes cursos em até cinco instituições da rede no País. Essa foi uma das decisões tomadas ontem em reunião entre os reitores das federais e o ministro da Educação, Fernando Haddad.

Também ficou acertado que as instituições que aderirem à proposta do Ministério da Educação de substituir o vestibular pelo novo Enem vão receber mais recursos para assistência estudantil. O MEC decidiu dobrar a verba repassada às universidades dos atuais R$ 200 milhões para R$ 400 milhões.

A maior parte vai para aquelas que fizerem parte do novo exame, previsto para ser implantado neste ano. "A assistência estudantil será reforçada porque o número de vagas nas instituições dobrou. Mas, para aquelas que atenderem alunos de outros Estados, terá de ser reforçada", disse Haddad.

Os recursos da assistência estudantil são usados para restaurantes universitários, moradia e bolsas para ajudar alunos de baixa renda. Como a intenção do MEC é que com o novo vestibular mais estudantes saiam de seus Estados, é necessário garantir que não tenham de abandonar os estudos porque não têm condições de se manter. Também é uma forma de compensação às instituições que hoje recebem recursos fazendo as próprias seleções, ao cobrar taxa de inscrição.

A decisão de dar oportunidade aos alunos de tentar mais de um curso e mais de uma instituição com a mesma prova é um dos pontos básicos da proposta que o MEC vai formalizar na próxima quarta aos reitores. Apesar de haver dúvidas sobre como vai funcionar na prática, ela foi bem-vista pelos reitores.

Da forma que o ministério propõe, os estudantes poderão, por exemplo, se inscrever em cinco cursos da mesma instituição; no mesmo curso em cinco instituições diferentes ou em cursos diferentes também em várias instituições. Só precisarão estabelecer uma hierarquia nas opções. A prioridade será dada à primeira delas. "Isso melhora o aproveitamento do aluno e das vagas", avaliou Haddad. Além disso, a inscrição só será feita depois de o candidato ter o resultado do Enem em mãos. Com isso, o estudante poderá ter uma ideia melhor das suas possibilidades de aprovação. O sistema de inscrição, online, ainda ficará aberto por algum tempo e o candidato poderá avaliar suas reais condições no curso escolhido e mudar suas opções, caso conclua que não será aprovado.

ELITIZAÇÃO

O coordenador do vestibular da Universidade Federal Fluminense (UFF), Nelliton Ventura, é um crítico do projeto do MEC no ponto em que trata do ingresso de estudantes de outros Estados. "A mobilidade pretendida pelo MEC vai ocorrer na mão inversa. Não vai ser o estudante do Norte e Nordeste que se mudará para o Sul. As classes mais abastadas têm maior rendimento no Enem e vão roubar as vagas nos outros Estados. Em vez de democratizar o acesso, vai elitizá-lo", avaliou.

ENTENDA

COMO ERA O ENEM

A prova tinha uma redação e 63 questões objetivas

Não eram exigidos conteúdos, mas sim avaliadas habilidades e competências, como domínio da norma culta da língua portuguesa, capacidade de resolver situações-problema, interpretação de textos e construção de argumentações consistentes

A realização da prova acontecia uma vez por ano, em agosto

Muitas universidades e faculdades usavam a pontuação do Enem como peso extra em seus vestibulares, como a USP

COMO VAI FICAR

Além da redação, o exame provavelmente terá 200 questões

O modelo novo do Enem proposto pelo MEC passará a exigir conteúdos específicos, sem deixar de avaliar habilidades. Entra língua portuguesa, inglês, geografia, história, biologia, física, química e matemática. Será parecido com o vestibular da Unicamp

Neste ano, o novo Enem será aplicado em outubro

A proposta é que ele seja o principal processo seletivo das universidades federais, podendo se expandir para a rede particular

O QUE AINDA É DÚVIDA

Ainda não está certo se o novo Enem será feito apenas uma vez ao ano, ou mais de uma, como sinalizou o MEC

Não está confirmada a adesão de todas as federais. Elas não podem ser obrigadas a entrar no novo modelo, devem aderir voluntariamente

Vestibulares que hoje usam o Enem como pontuação extra podem suspender essa possibilidade, já que ele mudaria de perfil

Algumas instituições podem criar uma segunda etapa de avaliação, usando o Enem como se fosse uma primeira fase