Título: Em MG, Dilma rouba cena de Aécio, pré-candidato tucano
Autor: Samarco, Christiane; Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2009, Nacional, p. A6

Enquanto governador enfrentou até protesto, ministra foi recebida sob aplausos e com versão adaptada do refrão da primeira campanha de Lula

Christiane Samarco e Eduardo Kattah

Os aliados do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), apostavam que a reunião do Conselho Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) ontem, em Montes Claros, serviria de vitrine para que ele apresentasse sua pré-candidatura a presidente, mas a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , roubou a cena. A provável adversária do PSDB na corrida desembarcou na cidade muito à vontade, risonha e mascando chiclete. Foi recebida sob fartos aplausos de populares, que entoavam uma versão adaptada do refrão da primeira campanha à Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva - "Olê, Olá, Dilmá, Dilmá".

Os petistas, sabendo de antemão que Dilma dividiria a cena com Aécio, ficaram exultantes. Em vez de ser recepcionada como visitante, ela foi acolhida como conterrânea até pelo anfitrião Aécio, que a saudou como "a ministra mineira".

O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que acompanhou cada passo de Dilma em Montes Claros, comentava que os 93 prefeitos do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha que fizeram a campanha "Lulécio" - de apoio simultâneo a Lula e Aécio em 2006 -, agora fazem o "Dilmécio", pela parceria entre a ministra e o tucano.

O movimento revela a convicção do PT e do PMDB locais de que o governador não sairá do PSDB nem tampouco se consolidará como candidato tucano ao Palácio do Planalto, deixando o caminho aberto a Dilma no Estado.

DESCOLAMENTO

É nesse cenário que um interlocutor de Luiz Inácio Lula da Silva informa que o presidente está "trabalhando fortemente" para descolar Aécio do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), provável presidenciável tucano. O objetivo dessa articulação é tentar impedir, a qualquer custo, que o governador mineiro componha a chapa presidencial tucana, como vice.

Lula confidenciou a amigos que teme a união da dupla de governadores dos dois maiores colégios eleitorais do País. Nesse caso, setores do Planalto e do PT avaliam que vencer o PSDB seria missão praticamente impossível para Dilma. Daí o esforço para descolar Aécio de Serra e arregimentar todos os aliados do governo na região a aclamar o governador como candidato de consenso ao Senado.

Surpreso e um pouco constrangido com uma manifestação de professores que, em coro, cobravam um "piso da educação", Aécio fez questão de ressaltar o apreço pela "parceria e soma de esforços" com o PT local e o governo federal.

"Precisamos nos unir no exercício da política, não para estarmos juntos, mas para construirmos juntos", destacou.

Na Sudene, Dilma fez um discurso político. Criticou a falta de uma política desenvolvimentista, que condenou o Nordeste a "não ser sequer pensado". Propôs que a Sudene represente um fórum em que o Nordeste seja visto na perspectiva de um local que, se não se desenvolver, "não haverá desenvolvimento humano no Brasil".

O espírito de união ficou claro na cena protagonizada por Lula, Aécio e pelo vice-presidente da República, José Alencar, no encerramento da reunião. No contexto da homenagem prestada a Alencar, cada um tomou em suas mãos uma viola caipira e, juntos, encenaram um trio de cordas.