Título: Velhos companheiros se despedem de Moreira Alves
Autor: Vieira, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2009, Nacional, p. A11

Corpo do ex-deputado, pivô do AI-5, foi cremado ontem no Rio; Estado decretou luto oficial

Márcia Vieira

Velhos amigos velaram ontem na sede da Assembleia Legislativa do Rio o corpo do ex-deputado Márcio Moreira Alves. Ele morreu na sexta-feira à noite, aos 72 anos, depois de passar cinco meses internado, vítima de um acidente vascular cerebral. O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, anunciou, durante o velório, luto oficial de três dias no Estado.

O presidente Lula foi representado pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Antes de o corpo seguir para o Cemitério do Caju, onde foi cremado, Frei Betto leu um texto em homenagem ao amigo de muitos anos. Também estiveram na despedida do jornalista o presidente da Câmara, Michel Temer, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

O ex-governador da Bahia e ex-ministro Waldir Pires, de 82 anos, se emocionou ao falar do velho amigo. "Nos encontrávamos em Paris durante o exílio e continuamos convivendo na volta ao Brasil. Márcio foi uma figura muito importante da segunda metade do século 20", disse. "Ele participou da batalha, que nós lutamos e perdemos, mas que continua hoje, de se construir um país decente."

Pires lembrou do famoso discurso que Moreira Alves, então deputado, fez no Congresso em 1968 e que acabou sendo usado como pretexto pelo governo militar para decretar o AI-5 e cassar-lhe o mandato. "Márcio teve coragem. Ele não era um radical, tinha um pensamento moderado. Mas seu discurso foi decisivo para mostrar que a democracia não era democracia. O discurso fez cair a máscara da ditadura."

Os ex-deputados José Frejat, de 85 anos, e David Lerer, de 71, que conviveram com Marcito, como era chamado, nos agitados anos 60 e 70, ressaltaram que o amigo era leal, corajoso e honesto. "Já não se fabricam homens como ele. Hoje se tapa o nariz para a política. Não tínhamos a mordomia que os políticos de hoje têm", disse Frejat. "Ele é o símbolo de uma época em que os políticos se moviam por ideias", afirmou Lerer.

Carioca, Moreira Alves afastou-se da política em 1982, quando não conseguiu se eleger deputado. Voltou então a se dedicar apenas ao jornalismo. Márcio tinha três filhos: Leonor, Isabel e Pedro Afonso.

Nenhum seguiu a carreira política. "Meu pai não tinha medo. Era um excelente jornalista e um mau político porque ele não sabia dizer o que ele não pensava", disse Pedro. Marie, que foi casada com Moreira Alves por 42 anos até a separação há 5 anos, foi carinhosa com o ex-marido. "Só posso falar que amo muito ele."