Título: Investir na mulher dá maior retorno
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2009, Vida&, p. A23

Estudos apontam que transformação social cresce com mais escolaridade para meninas; País tem poucos projetos

Simone Iwasso

Investir e educar as mulheres e meninas de um País traz um retorno mais alto para o desenvolvimento local do que qualquer outra forma de investimento. Essa conclusão, resumo de uma série de estudos que tratam da capacidade das mulheres de agirem como agentes de transformação social nas comunidades onde vivem, não veio de grupos feministas ou organizações não-governamentais: é o resultado de um painel realizado no último Fórum Econômico Mundial conduzido por uma diretora do Banco Mundial, Ngozi Okonjo-Iweala.

A conclusão no evento deu maior visibilidade para um tema que tem atraído a atenção de sociólogos, economistas, gestores públicos e organizações sociais - o chamado Efeito Feminino (The Girl Effect, como é conhecido em inglês). Em outras palavras, é o resultado do investimento nas meninas, desde a infância até a idade adulta, que a sociedade percebe.

Até alguns anos restrito à observação de quem acompanhava a área, esse efeito aparece com maior frequência em números e pesquisas. Dados da Fundação Nike, por exemplo, mostram que a economia de um país cresce 3% a cada 10% de meninas que ele coloca no ensino básico. E, assim que passa a ter rendimentos próprios, a mulher gasta 90% de seu dinheiro com a família - ao contrário dos homens, que usam para isso 35%. Com sete anos a mais de educação, uma garota casará quatro anos mais tarde e terá dois filhos a menos.

"A importância do investimento social na mulher é clara e comprovada para promover o desenvolvimento. Mesmo assim, ainda é muito pequena e há poucas ações em curso no Brasil", afirma Amália Fischer, coordenadora executiva do Elas, um fundo de investimento social que direciona recursos para projetos voltados para meninas e mulheres. "São as mulheres que assumem suas famílias, que educam seus filhos, que geram renda para suas casas e ainda há poucos programas que investem nelas."

Mesmo assim, no Brasil, algumas iniciativas do poder público já seguem esse caminho. Nas famílias que recebem recursos do Bolsa-Família, do governo federal, a mulher tem preferência para ser a titular do cartão - com isso, 94% dos benefícios estão no nome de mulheres, sendo 16% delas solteiras com filhos. Os programas de moradia do Estado de São Paulo também registram as casas no nome das mulheres - era comum maridos expulsarem a mulher e os filhos depois da construção das residências.

"Quando você estuda algumas situações antes e depois do ingresso das mulheres, percebe a capacidade delas de provocar transformações, como nos movimentos de moradia, nas reivindicações de condições de trabalho e até mesmo nas delegacias", afirma Hilda Pívaro Stadniky, responsável por uma linha de pesquisa sobre homens, mulheres e desenvolvimento sustentável na Universidade Estadual de Maringá.

No interior de São Paulo, um projeto chamado Lua Nova consegue tirar da situação de risco 80% das meninas atendidas. "Elas chegam sem nada, com risco de perderem os filhos, sem ter onde morar. Depois que você acolhe e ajuda, elas aprendem até a construir suas próprias casas", diz Raquel Barros, fundadora da organização. ,

RETORNO

3% é o quanto cresce a economia de um país quando ele consegue colocar mais 10% de suas meninas nas escolas de ensino básico, segundo estudo da Fundação Nike

90% do salário das mulheres é gasto com sua própria casa e família, ao contrário dos homens, que reinvestem nisso cerca de 35%