Título: ONU não pune Pyongyang por teste
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2009, Internacional, p. A10

Apesar da condenação mundial ao lançamento de foguete, Conselho de Segurança decide não agir contra Coreia do Norte

NOVA YORK

Horas depois de ter lançado um foguete de sua base em Musudan, em um claro desafio à comunidade internacional, a Coreia do Norte foi alvo ontem de duras criticas e enfrentava a perspectiva de sofrer novas sanções. O Conselho de Segurança da ONU chegou a convocar uma reunião de emergência, mas após três horas de reunião a portas fechadas decidiu não tomar nenhuma medida por enquanto. Acredita-se que o foguete, que segundo Pyongyang levava um satélite de comunicações, tenha servido como teste de um míssil de longo alcance.

O isolado regime comunista de Kim Jong-il garante que o lançamento foi bem sucedido e o satélite experimental está na órbita da Terra "transmitindo canções revolucionárias". O Pentágono, no entanto, afirmou que nenhum equipamento entrou em órbita. O míssil teria chegado até o segundo estágio, mas a etapa final aparentemente falhou (leia mais ao lado).

O presidente do CS da ONU, Claude Heller, disse que as negociações sobre a resposta a Pyongyang continuam, dada a "seriedade da situação". O objetivo era buscar uma resposta unificada, o que não ocorreu - o CS não conseguiu aprovar nem o tradicional texto preliminar de condenação.

Diplomatas presentes à reunião afirmaram que China, Rússia, Líbia e Vietnã estavam preocupados com o isolamento da Coreia do Norte. O embaixador chinês, Zhang Yesui, afirmou que a reação do órgão precisa ser "cautelosa e proporcional". Principal aliada de Kim, a China tem poder de veto na ONU.

Segundo os EUA, Japão e Coreia do Sul, o lançamento violou a Resolução 1718, aprovada em 2006, que exigia que a Coreia do Norte suspendesse "todas as atividades relacionadas ao programa de mísseis".

"Os EUA veem o ato como algo sério. É uma violação e merece uma resposta apropriada da ONU", afirmou a embaixadora americana Susan Rice antes de entrar para a reunião. Em Praga, o presidente americano, Barack Obama, condenou o lançamento e pediu punições à Coreia do Norte , assim como a União Europeia. Tanto os europeus como americanos querem um sistema de inspeção aos programas nucleares norte-coreanos.

O governo francês também emitiu uma declaração condenando o lançamento. "Só há uma resposta possível: a comunidade internacional tem de punir um regime que não respeita regras internacionais", afirmou o presidente Nicolas Sarkozy. A Otan chamou o ato de "altamente provocativo".

TENSÃO NA ÁSIA

O disparo também aumentou a tensão com os países vizinhos. Temendo que destroços caíssem em seu território, o Japão havia posicionado baterias de interceptores em vários pontos do país e navios antimísseis na costa. Mesmo sem ter sido atingido por destroços, o Japão protestou contra o lançamento sobre o país. Em nota, Tóquio afirmou que o lançamento foi "extremamente lamentável".

O porta-voz da presidência sul-coreana, Lee Dong-kwan, afirmou que o lançamento "representa uma ameaça à estabilidade na Península Coreana e no restante do mundo num momento em que todos estão se unindo para superar a crise econômica global".

China e Rússia, porém, pediram calma aos países vizinhos. "Todos os Estados afetados devem mostrar prudência em seus julgamentos e ações", afirmou o chanceler russo, Andrei Nesterenko.

PROPAGANDA

Segundo a agência de notícias oficial da Coreia do Norte, Kim observou o lançamento do centro de comando. "Ele se encontrou com os cientistas e técnicos que contribuíram no projeto e os encorajou cordialmente antes de tirarem fotos juntos", diz o texto da KCNA.

O líder norte-coreano, de 67 anos, que supostamente sofreu um derrame em agosto, tenta demonstrar que está firme no comando do país. Analistas veem o lançamento como uma forma de propaganda e acreditam que Pyongyang teve a intenção de inspirar medo no exterior e respeito da população internamente.

Apesar da política de provocações, a Coreia do Norte é um dos países mais pobres do mundo e depende doações internacionais de alimentos. Ao reforçar o poderio militar, o país aumenta sua moeda de troca para as futuras negociações sobre o desarmamento nuclear com o grupo dos seis, formado ainda por EUA, China, Rússia, Japão e Coreia do Sul.

AP e REUTERS

REPROVAÇÃO

Barack Obama Presidente americano

"Mais uma vez, a Coreia do Norte quebrou as regras. Essa provocação reforça a necessidade por ação "

Lee Dong-kwan Porta-voz sul-coreano

"Representa uma séria ameaça à estabilidade na Península Coreana e no restante do mundo"