Título: Obama ameniza restrições a Cuba
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2009, Internacional, p. A9
Limite para visita e envio de dinheiro é suspenso; empresas de telecomunicações dos EUA poderão atuar na ilha
Patrícia Campos Mello
A Casa Branca rompeu com décadas de política de isolamento de Cuba ao anunciar ontem medidas para facilitar o contato entre cubano-americanos e seus parentes que ainda moram na ilha. Foram eliminadas as restrições de visitas de cubano-americanos a Cuba e os limites das remessas de recursos à ilha. As duas medidas foram promessa de campanha do presidente Barack Obama e servem como um gesto de boa vontade para os países da América Latina, às vésperas da Cúpula das Américas que começa sexta-feira. Além disso, empresas de telecomunicações americanas foram autorizadas a prestar serviço aos cubanos e linhas aéreas poderão estudar o estabelecimento de voos diretos para Cuba - hoje, só há voos charters.
"Queremos que os cubano-americanos possam visitar seus irmãos e mandar dinheiro para seus pais, fazendo com que eles sejam menos dependentes do regime", disse Dan Restrepo, assistente especial do presidente e diretor de Assuntos do Hemisfério Ocidental na Casa Branca. "Estamos facilitando o fluxo de informações e, como o presidente já disse, os cubano-americanos são os melhores embaixadores da liberdade." Cerca de 1,5 milhão de americanos tem parentes em Cuba. Hoje, cubano-americanos só podem visitar o país uma vez e enviar US$ 1.200 em dinheiro para parentes por ano.
As medidas são uma ruptura com o estilo de linha dura do governo de George W. Bush. Mas analistas apontam que o embargo à ilha, de 47 anos, ainda será mantido por muito tempo. "Todos que apoiam os valores democráticos esperam que Cuba respeite os direitos humanos, políticos e econômicos de seus cidadãos", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. "O presidente crê que as medidas de hoje ajudarão a transformar esse objetivo em realidade."
Ações de empresas que podem se beneficiar de uma aproximação entre os dois países tiveram altas expressivas na Bolsa de Nova York, ontem. Empresas de navegação e mineradoras com atividades na ilha foram as mais favorecidas.
Daqui para frente as empresas americanas de telecomunicação poderão instalar ligações por satélite e fibra ótica com Cuba, ter acordos de roaming de celular e permitir que cidadãos americanos paguem por serviços de telecomunicação prestados para cubanos residentes na ilha. Passam a estar fora do embargo comercial telefones celulares, computadores e antenas, que poderão ser mandados à ilha por parentes. Bush havia banido o envio de presentes para parentes na ilha.
A medida foi bem recebida por legisladores que apoiam a aproximação com Cuba e o fim do embargo, embora muitos peçam medidas mais abrangentes, como a liberação de viagens de todos os americanos a Cuba.
Mas políticos conservadores criticaram Obama. "O presidente cometeu um enorme erro ao permitir de forma unilateral mais viagens a Cuba e aumentar a remessa de dólares para a ditadura cubana", disse o deputado republicano Lincoln Díaz-Balart, representante da linha-dura cubano-americana.
ENVIADO ESPECIAL
A Casa Branca está considerando nomear um enviado especial para a América Latina e a secretária de Estado Hillary Clinton está procurando um nome para o cargo, afirmou ontem o vice-assessor de Segurança Nacional, Denis McDonough.
FLEXIBILIZAÇÃO
Visitas - Cubano-americanos poderão visitar de forma ilimitada parentes em Cuba e poderão levar até US$ 3 mil na viagem. Antes, era uma visita por ano
Remessas - Foram levantadas todas as restrições sobre envio de dinheiro - periodicidade e valor - a parentes de até segundo grau que vivem na ilha. Até hoje, o envio era limitado a US$ 1.200
Embargo - Passam a estar fora do embargo comercial telefones celulares, computadores e antenas, que poderão ser mandados por cubano-americanos a parentes na ilha
Telecomunicações - Empresas americanas de telecomunicação poderão instalar ligações por satélite e fibra ótica com Cuba, ter acordos de roaming de celular e permitir que cidadãos americanos paguem por serviços de telecomunicação prestados para cubanos residentes na ilha.