Título: FMI acusa o G-20 de fazer corpo mole
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2009, Economia, p. B4

Governos devem agir para limpar os ativos tóxicos, diz Strauss-Kahn

Patrícia Campos Mello

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, acusou ontem os líderes do grupo dos 20 países mais ricos, o G-20, de fazer corpo mole para a limpeza dos balanços dos bancos de ativos tóxicos.

Segundo Strauss-Kahn, que está em Londres para a cúpula do G-20, a economia mundial não vai se recuperar enquanto os governos não agirem de forma enérgica para resolver o problema dos ativos tóxicos no sistema financeiro.

"Os Estados Unidos, com razão, insistem no estímulo fiscal e a União Europeia, também com razão, insiste na regulamentação financeira. Mas eles não estão agindo rapidamente para limpar o sistema financeiro", disse Strauss-Kahn. O diretor do FMI se disse "agnóstico" em relação ao método usado para limpar o sistema financeiro.

Mario Draghi, presidente do Fórum de Estabilidade Financeira (FSF, na sigla em inglês), órgão que reúne autoridades financeiras de vários países, também alertou para o atraso na limpeza do sistema financeiro. "O principal agora é atingir um nível de transparência em relação ao piso dos prejuízos dos bancos", disse Draghi.

Strauss-Kahn espera que a economia mundial se recupere no primeiro semestre de 2010, dependendo da "velocidade da limpeza dos balanços dos bancos". Em entrevista ao jornal espanhol El País, publicada ontem, ele afirmou que a economia mundial deve encolher entre 0,5% e 1% neste ano.

O diretor-gerente do FMI lembrou que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) pode ser a maior desde a 2ª Guerra e a "Grande Recessão" pode causar a perda de 50 milhões de empregos no mundo.

Às vésperas do encontro dos líderes do G-20, em que a Europa deve ser pressionada para aumentar seu estímulo à economia, Strauss-Kahn afirmou que o Banco Central Europeu poderia comprar ativos com emissão de moeda como maneira de aumentar a base monetária.

MÉXICO

Strauss-Kahn afirmou ontem que a iniciativa do México de recorrer a um empréstimo pela nova linha de crédito flexível do FMI é "uma boa medida para o país". "Acredito que o México seja um excelente candidato a pioneiro dessa linha de crédito e pretendo conseguir aprovação do conselho do Fundo rapidamente", disse ele, em nota. Segundo ele, a nova linha de crédito "pode desempenhar um papel importante para apoiar as políticas econômicas do México".

O ministro das Finanças mexicano, Agustin Carstens, confirmou na terça-feira que o México iria pedir um empréstimo de US$ 47 bilhões como "medida de precaução". O México seria o primeiro país a acessar essa nova linha do FMI.