Título: Para BIS, rombo nos bancos ainda não foi tapado
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2009, Economia, p. B3

Entidade que reúne BCs alerta que medidas de ajuda de governos tiveram reação negativa

Jamil Chade, GENEBRA

O Banco de Compensações Internacionais (BIS), banco central dos bancos centrais, alerta que, apesar de os bancos terem recebido quase US$ 1 trilhão desde a eclosão da crise, o buraco até agora não foi tapado.

Ainda segundo o BIS, a crise dá sinais de se aprofundar no mundo. Segundo a entidade, os dados macroeconômicos apontam para uma "debilidade na economia real" e em alguns casos "sugerem a pior deterioração em décadas".

Na avaliação do BIS, os mercados financeiros continuaram a ser afetados pela contração econômica entre novembro e fevereiro. "A confiança do investidor foi afetada quando, apesar de uma injeção total de US$ 925 bilhões pelo setor privado e governos no setor bancário global desde 2007, novos sinais de problemas surgiram nos Estados Unidos e Europa", disse o BIS.

A partir de janeiro, os problemas voltaram a assombrar os bancos e novos pacotes foram anunciados. Prejuízos e volatilidade originaram uma nova onda de planos de resgate nos Estados Unidos, Suíça, França, Holanda e Irlanda.

Mas, de novo, os pacotes não conseguiram acalmar a situação. O choque mais importante foi a péssima recepção das iniciativas do governo americano para salvar os bancos, em fevereiro.

A ideia de nacionalizações de bancos ainda foi "devastadora" para quem mantinha ações de instituições financeiras. Nem o anúncio americano de um novo pacote teve repercussão positiva e ganhos marginais acabaram desaparecendo.

"A atual crise bancária está sendo vista como a mais severa desde a Grande Depressão", disse o texto. Os spreads (que refletem o custo para tomar dinheiro emprestado) continuam a aumentar ante a volatilidade. O temor de calote também deve subir e a tolerância de investidores ao risco no mercado de crédito continuou deprimida.

CRÉDITOS

No total, a atividade interbancária cresceu em US$ 248 bilhões, atingindo US$ 37,5 trilhões ao final de setembro. Mas essa alta ocorreu apenas diante das transações entre filiais dos mesmos bancos. Os empréstimos entre bancos desabaram. A redução alcançou US$ 173 bilhões no terceiro trimestre de 2008. Entre março e junho, a queda já havia sido de US$ 800 bilhões. Os bancos europeus foram os maiores responsáveis por essa queda.

Sem poder contar com recursos de outros bancos, instituições passaram a recorrer aos bancos centrais por financiamento em dólar. Esses empréstimos aumentaram em US$ 190 bilhões.

Algumas políticas adotadas pelos governos começam a dar pequenos sinais de resultados, como no setor imobiliário, que recebeu uma injeção acumulada de US$ 500 bilhões. Mas a realidade é que a crise se agrava. "Sinais de desfuncionamento continuam, expondo o estado frágil das condições de mercado e o sentimento de investidores", afirmou o BIS.