Título: País quer incluir representante dos emergentes na direção do FMI
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2009, Economia, p. B3

Brasil vai brigar para ter mais voz nas discussões do organismo multilateral, que passará por reforma até 2011

Adriana Fernandes, BRASÍLIA

Depois de entrar para o grupo de países credores do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil vai brigar para ter mais voz e incluir na direção do organismo multilateral um representante escolhido pelos países emergentes. Essa é uma das frentes de interesse do Brasil nas discussões para reforma do Fundo e do Banco Mundial (Bird), que foram acertadas na reunião de cúpula do G-20, semana passada, em Londres.

Até abril de 2010, a reforma do Bird tem de estar concluída e, em janeiro de 2011, a do FMI. A regra de escolha dos dirigentes desses organismos multilaterais, desde o período pós-guerra quando foram criados, tem sido a mesma: Estados Unidos presidem o Banco Mundial e os europeus, o FMI. Nos últimos anos, o Brasil tem sido um dos maiores críticos a esse padrão de escolha. A tese é que essa divisão de comandos reflete o balanço de poder no mundo após a segunda grande guerra. No entanto, nas últimas décadas, outros países ganharam relevância no cenário internacional. Esse argumento sensibilizava poucos interlocutores antes da atual crise.

"O Brasil espera que dessas reformas resulte um realinhamento significativo do que se chama de cotas e voz do Fundo e do Banco Mundial que levem a um maior peso dos países emergentes e em desenvolvimento", disse uma fonte do Ministério da Fazenda. O Brasil quer que o processo de escolha dos dirigentes do FMI seja aberto a todos os países. "É uma mudança necessária. O Brasil gostaria que os próximos processos fossem abertos para pessoas provenientes de países emergentes", ressaltou.

A avaliação do governo é que, depois da cúpula do G-20, o Brasil conseguiu ampliar o seu espaço dentro de discussões importantes que se darão a partir de agora como a regulamentação do sistema financeiro, inclusive para fundos de hedge, a obrigação dos paraísos fiscais em dar informações e a retomada da Rodada de Doha de comércio.

O País deverá ter uma atuação forte nas discussões sobre a regulação do sistema financeiro, pois as regras prudenciais em vigor no Brasil são apontadas como um possível modelo por especialistas. Outra frente na qual o governo brasileiro pretende se destacar são as negociações comerciais. Desde a eclosão da crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se posicionado contra o protecionismo.

A reunião do G-20 teve como saldo positivo para o País a conquista de assentos em pelo menos três grupos de decisão internacional. O primeiro é o chamado Fundo de Estabilidade Financeira, fórum sobre as medidas de regulação financeira.

O Brasil também vai integrar o Comitê de Basileia de Supervisão Bancária, que define as chamadas regras de Basileia seguidas pelos bancos. Também fará parte do comitê técnico da Iosco, que é a Organização Internacional das Comissões de Valores. Esse comitê era formado por 15 países e agora terá 18, entre eles o Brasil. "Ganhamos muito espaço. São centros fundamentais para as fixações de novos parâmetros de regulação e supervisão", disse a fonte do governo.

O próprio G-20 saiu fortalecido, pois as decisões de peso tomadas durante a reunião de cúpula fazem sombra ao G-8. Essa é outra tese cara ao governo brasileiro.

Com essa movimentação, o clube exclusivo dos países ricos tenderá a ceder espaço a um grupo mais amplo, integrado também pelos principais emergentes. A ideia é realizar uma nova reunião de cúpula do G-20 ainda este ano. Estados Unidos, Austrália e Japão estão na disputa para sediá-la.