Título: Para Lima Neto, juro continuará alto
Autor: Vallone, Giuliana; Justus, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2009, Economia, p. B6
Ex-presidente do BB diz que é preciso mexer na taxa Selic e nos impostos
Beatriz Abreu, BRASÍLIA
A troca de comando no Banco do Brasil não vai levar à queda das taxas de juros e do spread (diferença entre o custo de captação e dos empréstimos) numa velocidade e intensidade mais forte, como deseja o governo, na avaliação do ex-presidente Antonio de Lima Neto. Em conversa com amigos, passado o constrangimento de ser convencido a pedir demissão do cargo depois de meses de desgastes na relação com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele afirma que não pretende "sair atirando" e tampouco guardará mágoa do desfecho de sua missão à frente do Banco do Brasil.
Lima Neto relaciona os êxitos de sua gestão e reconhece que, de fato, frustrou as expectativas do Planalto, da Fazenda, do Banco Central e da Casa Civil, que insistem em uma queda drástica das taxas cobradas pelo banco. Ele está convencido de que uma queda mais intensa dos juros e do spread só acontecerá no momento em que o BC reduzir ainda mais a taxa Selic, atualmente de 11,25%. O governo, segundo esse relato, deveria também promover um corte expressivo da carga de impostos que incide na concessão de crédito, para conseguir uma queda nos spreads.
Ele reconhece que, nos últimos meses, baixou gradativamente as taxas cobradas pelo banco, mas que isso foi considerado insuficiente pelo governo. Nessas conversas, Lima Neto fala em não confrontar situações, mas estabelece as diferenças entre a atuação do BB e a da Caixa Econômica Federal: a Caixa é um banco 100% estatal e não está preocupado com a lucratividade. Ele compreende as ponderações da ministra Dilma Rousseff, que criticou os dirigentes de bancos estatais que se comportam como se comandassem instituições privadas. Mas sugere que o governo comete um equívoco quando considera que estará estimulando a concorrência no mercado se o BB e a Caixa reduzirem suas taxas.
A suspeita, levantada pela oposição, de irregularidades nas compras de carteiras de bancos pequenos, é minimizada por Lima Neto. Ele assegura que o banco fez "excelentes negócios" e comprou essas carteiras "com preço de oportunidade". Essas operações, incluindo a compra da Nossa Caixa, aumentaram a musculatura do BB, que tem ativos estimados em mais de R$ 600 bilhões.
Em relação as críticas à participação no Banco Votorantim, com 49,9% das ações, apesar da pressão de setores dos governo para a compra do controle, Lima Neto defende a operação. Lembra que o BB ainda não colocou um centavo no banco dos Ermírio de Moraes e aguarda o resultado de uma auditoria externa nas contas da instituição.