Título: Sanofi anuncia a compra da Medley
Autor: Cançado, Patrícia; Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2009, Economia, p. B11
Aquisição, de R$ 1,5 bi, faz parte da estratégia do grupo de investir em países emergentes e na venda de genéricos
Patrícia Cançado e Andrei Netto, SÃO PAULO e PARIS
O laboratório Medley, que disputa com a EMS a liderança no mercado de medicamentos genéricos no País, foi vendido à gigante francesa Sanofi-aventis por R$ 1,5 bilhão - ou 500 milhões. O anúncio do negócio foi feito ontem, em Paris, sede da multinacional. A aquisição reforça duas estratégias do grupo: apostar em países emergentes - em especial no Brasil, onde já é líder de mercado, e na América Latina - e no crescimento da venda de genéricos.
"Nossa estratégia enfatiza o crescimento nos mercados emergentes", explicou ao Estado o porta-voz da multinacional francesa, Geoffrey Pessaud. "Trata-se de uma conjunção de interesses: ampliar nossa participação nos mercados emergentes, ao mesmo tempo em que investimos no segmento dos remédios genéricos."
A assinatura do acordo de aquisição deve levar à conclusão do negócio até o segundo semestre de 2009, mas está sujeita a "condições suspensivas", segundo o comunicado distribuído pela empresa.
Com a venda, o controlador do laboratório brasileiro, Alexandre Negrão, vai embolsar inicialmente R$ 630 milhões. Mas esse valor pode subir para quase R$ 1 bilhão se forem cumpridas determinadas condições e se não houver contingências futuras, segundo uma fonte próxima à transação. A dívida da Medley, segundo a multinacional, é de 170 milhões (cerca de R$ 510 milhões) e será abatida do valor total da operação.
Terceiro maior laboratório do País, o Medley imprime sua marca em 172 medicamentos. No ano passado, 68% do seu faturamento, estimado em R$ 458 milhões, veio da venda de genéricos. "A Medley está muito bem posicionada para se beneficiar do crescimento do mercado de genéricos do Brasil, que deve se manter superior a 20% ao ano nos próximos anos", informou a nota da Sanofi-aventis. Além da posição estratégica no mercado de genéricos, a empresa paulista detém 5,7% do total das vendas de medicamentos no País.
A Medley foi criada,com esse nome, há doze anos pela família Negrão. Em pouco tempo, saiu da condição de desconhecida para o topo da indústria farmacêutica. No último ano, no entanto, enfrentou uma situação financeira difícil, com uma dívida alta e de curto prazo. Segundo fontes, em 2008 o grupo deixou de crescer pela primeira vez em sua história. Com dificuldade de obter capital de giro e com estoques altos nas distribuidoras, também se viu obrigado a parar a produção por alguns meses e perdeu vários profissionais de primeira linha.
Se por um lado a política agressiva de alavancagem deixou a empresa numa situação complicada, por outro acelerou o seu crescimento nos últimos anos, despertando o interesse de vários compradores - o laboratório Aché disputou o negócio com a Sanofi até dezembro. Com a aquisição, a participação do grupo francês, que já era líder no mercado farmacêutico no País, sobe para 12%. A multinacional também passa à liderança na América Latina.
A compra da Medley faz parte de uma política agressiva de aquisições nos países em desenvolvimento, principalmente no Brasil, Rússia, Índia, China e México. Há uma semana, a Sanofi-aventis já havia anunciado a aquisição dos Laboratorios Kendrick, do México. Em fevereiro, o alvo havia sido a Zentiva, um grupo com forte presença nas Europas Central e do Leste, na Turquia e na Rússia.
Os investimentos na produção de genéricos, segundo Pessaud, são também uma estratégia para diversificar os negócios e, além disso, enfrentar a contestação das patentes sobre princípios ativos, uma prática do Ministério da Saúde brasileiro em relação às drogas antirretrovirais desde os anos 90.
"As quebras de patentes não são uma medida particular do Brasil, e sim algo que acontece em diversos países do mundo", pondera. "De qualquer forma, ao investirmos em genéricos, entre outras estratégias que usamos, estamos nos prevenindo dos efeitos da quebra de patentes."
INSACIÁVEL
O apetite pelo crescimento no mercado brasileiro não se encerra com a compra da Medley, avisa Pessaud: "Temos uma história de 50 anos no Brasil e vamos continuar reforçando nossa presença no País." Com a aquisição do laboratório brasileiro, a Sanofi-aventis também amplia sua capacidade de produção na América Latina - um elemento importante na disputa com outras gigantes do setor farmacêutico, como Bayer, Novartis e GSK.
Na Europa, a reação do mercado financeiro ao anúncio da compra foi discreto. Na Bolsa de Paris, as ações do grupo sofreram queda de 0,55%.