Título: Governo troca presidente do BB e ações caem
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2009, Economia, p. B1

Mudança teria sido motivada pelo combate aos juros altos, mas oposição levanta suspeita de irregularidades

Lu Aiko Otta, BRASÍLIA

Depois de um longo período de desgaste dentro do governo, o presidente do Banco do Brasil (BB), Antonio Francisco de Lima Neto, deixou ontem o cargo. Ele será substituído por Aldemir Bendine, atual vice-presidente de Cartões e Novos Negócios. A mudança foi anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em meio à preocupação do mercado financeiro, que teme o uso político do banco. As ações do BB caíram 8,15%.

Nos bastidores, integrantes do governo informavam que a demissão foi motivada pela relutância de Lima Neto em liderar o movimento de redução do custo de crédito no País. Mas a oposição levantou suspeitas de que Lima Neto teria cometido irregularidades nas operações de socorro a bancos, no período mais agudo da crise. Embora o assunto tenha agitado o Congresso ontem, nenhum caso específico foi apontado e nenhuma prova foi apresentada.

Lima Neto apressou-se a desmentir: "Não tem a menor possibilidade de ter havido qualquer problema nisso". Segundo ele, a aquisição de carteiras sempre foi uma linha de atuação do BB e essas operações não são decididas por uma só pessoa. Mantega também negou. "Não tenho conhecimento de nenhuma irregularidade. Não acredito que tenha havido, mas de qualquer forma o Congresso é soberano para examinar e nós temos de dar as explicações."

A versão oficial é que Lima Neto tomou a iniciativa de pedir demissão, mas nos bastidores do governo a informação é outra. Ele teria sido destituído. O próprio Mantega enfraqueceu a versão do pedido de demissão, ao anunciar que convocaria Lima Neto a ocupar uma "nova atribuição importante no conglomerado" do BB. Na prática, é um rebaixamento.

A avaliação no Planalto era que a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vinham contribuindo para combater os efeitos da crise, mas o Banco do Brasil deixava a desejar.

O BB alegava que tinha limites para agir, pois tem ações cotadas em bolsa. Em janeiro, numa reunião com sindicalistas, Lula queixou-se do banco. Ontem, em novo encontro com sindicalistas, Lula disse que tem a redução do spread bancário como "obsessão". E a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que os bancos públicos não podem seguir a lógica das instituições privadas e se preocuparem apenas com os lucros.

Visões diferentes sobre a interferência do acionista majoritário (a União) nas decisões do banco eram motivo de desentendimentos entre Mantega e Lima Neto, segundo interlocutores. Na sexta-feira, o ministro avisou Lula que a situação estava "insustentável" e recebeu sinal verde para a substituição.

Aldo Luiz Mendes, um dos homens mais próximos do atual presidente e quem normalmente o substituía, pode ser o próximo a deixar a cúpula do banco, segundo apurou o Estado. Mendes tem sido o integrante do comando do BB que mais aparece na divulgação das ações estratégicas da instituição.

"Os acionistas podem ficar tranquilos, porque o profissionalismo será mantido", disse Mantega, ao comentar a possibilidade de maior interferência do governo no banco. Ele ressaltou que Lima Neto também foi uma escolha sua. "Então, por que não dizer que nos últimos dois anos houve ingerência política? Se houve, foi para o bem."

Em contraste com o antecessor, o novo presidente afirmou ontem que a diretriz de reduzir os juros "é algo já estabelecido" e até revelou sua estratégia: aumentar o volume de empréstimos, para poder cobrar juros menores. Ele assume o cargo com uma novidade: será pautado por um contrato de gestão, no qual serão estabelecidas metas de aumento do volume de crédito, absorção de novos correntistas e outras. Os detalhes deverão ser definidos ao longo dos próximos dias, disse Mantega.

COLABORARAM FABIO GRANER, TÂNIA MONTEIRO e VERA ROSA