Título: Queda do spread é minha obsessão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2009, Economia, p. B3

Lula afirma que ?esse é um dado; o Guido sabe disso, o BB sabe disso, a Caixa sabe disso e o BC sabe disso?

Leonencio Nossa e Tânia Monteiro, BRASÍLIA

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que os bancos federais não podem seguir a lógica das instituições privadas e se preocuparem apenas em obter lucro. "O banco público não tem de se comportar como banco privado, não pode ter lucro real de 20 a 30% ao ano, porque, senão, perde a razão dele de existir", disse Dilma, durante reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e dirigentes de centrais sindicais.

"Qual é a função dos bancos públicos? O que não dá é para ser deste jeito, o banco público querendo lucrar igual a banco privado", desabafou Dilma, segundo relato dos sindicalistas. "Não é para ter prejuízo, mas não precisa lucrar como os outros. Tem de ter o lado social", completou.

As declarações da ministra reforçaram as declarações dadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornalistas, pela manhã, quando comentou a demissão do presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto. Lula disse que já avisou aos subordinados da área que o spread bancário deve baixar e voltar à normalidade.

"Esse é um dado, o Guido (Mantega, ministro da Fazenda) sabe disso, o Banco do Brasil sabe disso, a Caixa sabe disso e o Banco Central sabe disso", afirmou. "Não há nenhuma necessidade do spread ter subido tanto no Brasil de julho para cá." E completou: "A redução do spread bancário neste momento é uma obsessão minha."

Ao ser questionado se estava mandando recados para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e para dirigentes da Caixa Econômica Federal e do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula sorriu e limitou-se a comentar que criou um grupo de trabalho para discutir a redução do spread bancário.

O presidente, que nos seis anos de governo fez questão de deixar claro que estava por trás das ações da equipe econômica, optou ontem por mostrar distanciamento para cobrar agilidade e melhores resultados.

BNDES

Um auxiliar de Lula observou que foi Meirelles quem convenceu Lula de que o problema maior é o spread bancário e não a taxa Selic. Lula, ainda segundo esse auxiliar, não estaria descontente com o trabalho de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, mas entende que há muita burocracia na concessão de créditos.

Dilma, por sua vez, avaliou que é preciso agilizar os financiamentos do banco. "Todos os caminhos percorridos para liberação dos projetos são muito lentos", disse Dilma, segundo sindicalistas. As centrais sindicais reclamaram que o BNDES está oferecendo financiamento para empresas estrangeiras como Wall Mart e Makro, enquanto empresas pequenas estão patinando.