Título: Secretário desaprova novo Enem
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2009, Vida&, p. A17

Ex-ministro, Paulo Renato assume pasta em SP e critica tentativa do governo federal de unificar vestibulares

Renata Cafardo

Em seu primeiro dia como novo secretário estadual da Educação, o ex-ministro Paulo Renato Souza criticou ontem as mudanças no vestibular propostas pelo governo federal. "O Enem é uma conquista. Acho que ele vai acabar. Vão manter a grife, mas vão mudar o conteúdo", disse ao Estado. O Ministério da Educação (MEC) decidiu transformar o Exame Nacional do Ensino Médio, criado por Paulo Renato em 1998, em uma prova que selecionará alunos para as universidades federais.

"O ministro, com boa intenção, está errando", completou, referindo-se a Fernando Haddad. Segundo Paulo Renato, o Enem foi pensado para orientar uma reforma no antigo colegial. A prova tem 63 questões que avaliam competências e habilidades desenvolvidas ao longo da vida escolar, e não o conteúdo das disciplinas. "Podemos perder esse instrumento importante, é uma pena."

Apesar de preferir que tudo continue como está, ou seja, as universidades fazendo suas próprias provas e apenas usando o Enem como um complemento, Paulo Renato gosta do modelo americano de seleção, no qual o ministério se inspirou. E provoca: "Se eu copiasse os Estados Unidos, seria linchado na rua. Mas eles podem."

No discurso de posse, anteontem, Paulo Renato disse que estava "assumindo um compromisso partidário num momento delicado da política nacional". À imprensa, afirmou que seu papel como secretário é o de ajudar o PSDB a ter visibilidade nacional. Ele substitui Maria Helena Guimarães de Castro.

"Respeito a opinião do secretário, mas ela é minoritária", disse o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes. Para ele, que foi indicado pelo MEC para tratar do assunto, o Enem nunca funcionou como orientação para o ensino médio porque o vestibular sempre teve mais força. Além disso, o exame não era adotado como forma de seleção porque as universidades consideravam que ele cobrava pouco conteúdo. "As mudanças são o caminho natural. Conversamos com vários setores e todos concordam que o Enem precisa mudar."

No primeiro mandato de Lula, o Enem correu o risco de acabar. Alguns petistas achavam que ele não cumpria seus objetivos. Centenas de instituições, como a Fuvest, já usavam sua nota como parte de seus vestibulares. Mais tarde, porém, o governo decidiu aproveitá-la na seleção do ProUni, que dá bolsas em universidades privadas a alunos pobres, e a adesão de estudantes explodiu. Cerca de 4 milhões participaram da última prova.

O MEC agora aguarda o posicionamento das 55 universidades federais sobre a proposta de usar o Enem para seleção. O exame será ampliado para 200 questões e terá mais conteúdo. Mesmo que nem todas concordem, o Enem antigo não deve voltar a ser realizado.

Paulo Renato ocupa hoje o mesmo cargo de 25 anos atrás, quando assumiu a Secretaria da Educação de Franco Montoro. "O que existe de novo é a avaliação. Antigamente, cada professor tinha o seu critério, não se podia comparar sequer duas turmas." Foi na gestão de Paulo Renato no MEC que se introduziu no Brasil a cultura da avaliação educacional. Além do Enem, ele criou o Provão e reorganizou o Saeb, do ensino básico.

COLABOROU LISANDRA PARAGUASSÚ