Título: Falta de repasse aprofunda diferença de preços
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2009, Economia, p. B1

Diesel vendido pela Petrobrás está cerca de 50% mais caro do que no mercado americano

Nicola Pamplona, RIO

O preço do diesel vendido pela Petrobrás está hoje cerca de 50% acima do valor no mercado americano, segundo especialistas consultados pelo Estado. A diferença reflete a queda das cotações do petróleo nos últimos meses, sem o repasse ao mercado interno. Na última vez em que o produto foi reajustado, em maio de 2008, o petróleo Brent, negociado em Londres, custava cerca de US$ 110 o barril. Ontem, fechou a US$ 51,96.

Na ocasião, a estatal aumentou o preço do diesel em 15%, após mais de dois anos sem reajustes. Para evitar grande repercussão nas bombas de combustíveis, o governo reduziu em R$ 0,04 a Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o imposto federal sobre os combustíveis, para R$ 0,03 por litro. Com isso, o aumento para o consumidor final ficou abaixo dos 10%.

Mesma política foi adotada para a gasolina, que subiu 10% nas refinarias, mas caiu R$ 0,10 na Cide, compensando a alta. Segundo especialistas, a gasolina é vendida hoje no País por até 30% acima da cotação americana, dependendo do cálculo. O produto também havia ficado mais de dois anos sem reajuste antes das mudanças feitas pela estatal em maio de 2008.

O mercado, porém, continua trabalhando com a possibilidade de redução de preços apenas em meados do ano, depois que a Petrobrás reverter as perdas com a manutenção dos preços abaixo do mercado antes de maio de 2008 e nos meses seguintes, quando o petróleo chegou a US$ 140 o barril. Essa estratégia foi reforçada por declarações da direção da estatal, para quem os preços, analisados no longo prazo, estão equiparados à cotação internacional.

"Acredito que os reajustes só serão feitos no segundo semestre", disse ontem o analista de petróleo do BB Investimentos, Nelson Rodrigues de Mattos, argumentando que a empresa precisa de caixa para sustentar seu programa de investimentos. O mercado trabalha ainda com a hipótese de recomposição nas alíquotas da Cide, reduzindo os impactos positivos para o consumidor. Ainda mais em um momento de busca por fontes de recursos para bancar desonerações tributárias.

"É uma possibilidade, pode aumentar a arrecadação do governo tirando dinheiro da Petrobrás, e não do consumidor", diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Ele diz que, historicamente, a Petrobrás costuma mexer nos preços dos dois combustíveis juntos. "Nunca na história a Petrobrás reajustou o preço de apenas um destes dois combustíveis."