Título: Cerco a empreiteira partiu de rastreamento a doleiros
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2009, Nacional, p. A6

Grampos telefônicos da Operação Downtown levaram à Camargo Corrêa

FAUSTO MACEDO e ROBERTO ALMEIDA

No rastro de "diversos núcleos independentes de doleiros", a Polícia Federal montou Castelo de Areia - investigação integrada com a Procuradoria da República que levou à prisão quatro executivos da construtora Camargo Corrêa citados em suposto esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e doações eleitorais por fora.

Relatório da PF anexado aos autos da Castelo de Areia mostra que a origem do cerco à empreiteira foi a Operação Downtown, que mirava exclusivamente operadores do mercado paralelo. Interceptação telefônica autorizada pela 2ª Vara Criminal Federal no inquérito Downtown permitiu aos federais chegarem a um suspeito, conhecido por Tristão, que seria integrante de um grupo de doleiros que tinha como cliente principal a Camargo Corrêa.

O chefe do grupo, informa a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF, "é o doleiro identificado por Tigrão, que operava para clientes brasileiros diretamente da cidade de Montevidéu, no Uruguai".

A PF seguiu Tristão e outros quatro investigados no dia 28 de julho de 2008 até a sede da Camargo Corrêa. Segundo o relatório, eles "tentaram fazer uma entrega de valores direcionada a Dárcio e a Fernando". A investigação indica que os doleiros iam entregar US$ 150 mil. Dárcio Brunato e Fernando Dias Gomes são dois executivos da construtora a quem a PF atribui participação na Castelo de Areia. Os dois foram presos dia 25 de março por ordem do juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Federal - 72 horas depois, a desembargadora Cecília Mello, do Tribunal Regional Federal, mandou soltar todos os alvos da operação e criticou o juiz.

No mesmo relatório a PF juntou cópia de fax que teria sido encaminhado pela Camargo Corrêa para o escritório do doleiro Jadair Fernandes de Almeida, no Rio, indicando conta para depósito no exterior no montante de US$ 800 mil por meio do sistema dólar cabo - remessa virtual com compensação posterior. A transação ocorreu em 12 de novembro de 2008. Foi na Downtown que a PF interceptou comprovantes de transferências bancárias que deram suporte à abertura da Castelo de Areia. "Os comprovantes mostram a rota que o dinheiro seguia até seu destino final", diz a PF, que cita Alemanha, Suíça, Israel, Angola e China.

"É mais uma afirmação absolutamente desprovida de comprovação fática", reagiu o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende a cúpula da empreiteira. "Uma afirmação dessas fica sujeita à comprovação probatória séria. Como é que sabem que esse Tristão foi à Camargo Corrêa entregar valores? Quem é que disse? Quem viu? Não é possível que se dê credibilidade a isso se não apontam elementos concretos."