Título: Delegado fraudou grampo, diz Dantas
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2009, Nacional, p. A10

Segundo ele, Protógenes enxertou diálogos ilegais em arquivos de conversas feitas com autorização judicial

Ana Paula Scinocca

O banqueiro Daniel Dantas acusou ontem o delegado Protógenes Queiroz de prática de grampos ilegais no âmbito da Operação Satiagraha. Munido de quatro laudos feitos por encomenda a institutos e peritos privados, Dantas disse ter como provar que o ex-chefe da operação que o levou para a cadeia enxertou diálogos ilegais em arquivos de conversas feitas com autorização judicial. Além disso, o banqueiro sustentou que até grampos ambientais foram distorcidos e alterados pelo delegado com o objetivo de incriminá-lo.

Munido de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal que lhe dava o direito de ficar calado para evitar que se autoincriminasse, Dantas falou por seis horas na CPI dos Grampos, mas só o que quis. Para a oposição, ele aproveitou seu depoimento para dar recados ao governo e à PF. Na base aliada, a pressão é para que a CPI seja "enterrada".

Um dos documentos entregues à comissão era assinado pelo perito Ricardo Molina, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com base nele, o banqueiro sustentou não ter havido flagrante de suposto suborno de US$ 1 milhão a um delegado da PF durante a Satiagraha.

Dantas foi condenado pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal, a 10 anos de prisão por corrupção ativa. Segundo a denúncia do Ministério Público, o banqueiro teria utilizado Humberto Braz e Hugo Chicaroni para tentar subornar o delegado Victor Hugo Ferreira e, dessa forma, tirar seu nome das investigações da Satiagraha. "Isso é uma armação. Esse crime não houve", disse Dantas.

O laudo apresentado por Dantas sustenta que a voz flagrada na tentativa de suborno não é de Braz. "A conversa sobre o dinheiro ocorreu quando o Braz estava no banheiro. A voz não é do Humberto Braz, está aqui na gravação. Ele foi ao banheiro, o delegado chama o cinegrafista para filmar o flagrante. Esse é o espírito da operação controlada. Mas não fizeram o flagrante", afirmou.

No laudo, Molina afirmou que "a atribuição das falas no trecho comentado ao interlocutor Humberto Braz é um ato arbitrário, sem qualquer fundamento técnico". O perito escreveu, ainda, que a gravação apresentada pela PF é de "péssima qualidade" e 78,7% das falas da gravação não foram transcritas no relatório apresentado pela PF.

Dantas disse que a PF destruiu provas do suposto flagrante de suborno ao depositar US$ 1 milhão oferecido ao delegado na Caixa Econômica Federal. "O natural seria identificar de onde o dinheiro saiu, como pediu o Ministério Público. A Polícia Federal destrói a prova. A cédula foi depositada no banco, misturou as cédulas. Não tem como saber de onde vem o dinheiro", afirmou.

Assessorado por três advogados, Dantas se disse vítima de "uma operação de espionagem". Afirmou ter conhecimento de que as gravações telefônicas originais da Operação Satiagraha "desapareceram". Ele acusou a PF de se basear em cópias que foram "adulteradas". Dantas ainda acusou Protógenes de ter repassado a seus concorrentes material apreendido. Para ele, o delegado agiu para beneficiar empresas adversárias do Opportunity durante o processo de fusão da Oi com a Brasil Telecom.