Título: Economistas não veem recuperação consistente
Autor: Sobral, Isabel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2009, Economia, p. B6

Resultado está abaixo da média, diz José Márcio Camargo

Paulo Justus e Ricardo Leopoldo

A criação de 34.818 postos de trabalho em março pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) não pode ser considerada uma recuperação consistente, de acordo com economistas ouvidos pelo Estado. O resultado está abaixo da média de 100 mil empregos criados em março entre 2000 e 2007, lembra o professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo.

"Em 2009, a taxa de desemprego medida pelo IBGE deve atingir o pico de 11% em meados do ano. A média deve subir 2 pontos porcentuais em relação ao registrado em 2008 (7,9%)", comenta Camargo. A sua avaliação considera uma retração de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Para o economista da Unicamp e presidente do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho, Hélio Zylberstajn, a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) contribuiu para amenizar as demissões.

"As indústrias pararam de demitir, mas não voltaram a contratar", disse Zylberstajn. Em março, a indústria fechou 35,8 mil postos de trabalho.

Zylberstajn diz que o saldo positivo do Caged em março foi mascarado por contratações na área de educação. "Cerca de 9 mil vagas vieram do ensino e outras 7 mil, da administração pública, que também contempla a educação." Para ele, ainda é prematuro falar em recuperação. "Tudo depende da retomada do crescimento econômico, que parece estar longe, a julgar pelas previsões cada vez menores do PIB."

As medidas de estímulo econômico criaram uma bolha de consumo, que favoreceu o comércio e a indústria nesse período, diz o economista e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Roberto Teixeira da Costa. "Não se pode falar em recuperação porque esse trimestre ainda fechou com saldo negativo."

Previsão mais otimista tem o economista da LCA Consultores, Fábio Romão, que projeta saldo positivo no emprego industrial a partir de abril ou maio. "O pior já passou, agora teremos uma melhora gradual." Segundo Romão, o fechamento de 57.751 vagas no primeiro trimestre foi o pior desde 1999. Para o segundo trimestre, ele prevê criação de 457.699 vagas, resultado comparável ao mesmo período de 2003.