Título: Emprego teve pior março desde 2003
Autor: Sobral, Isabel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2009, Economia, p. B6

Puxadas pela indústria, demissões continuaram a superar as contratações em 57,7 mil no primeiro trimestre

Isabel Sobral

A radiografia do primeiro trimestre do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que a indústria foi o setor que mais sofreu os efeitos da crise global e, por isso, o que mais demitiu desde o fim de 2008. No acumulado do primeiro trimestre, as demissões continuaram superando as contratações em 57,7 mil. No balanço geral, o mês passado foi o pior março para o emprego desde 2003.

Apesar do saldo negativo, há setores que estão reagindo e retomando as contratações, com destaque para os serviços. O total de empregados contratados com carteira assinada no País em março superou em 34,8 mil o número de demitidos, segundo os dados do Caged, do Ministério do Trabalho. Foi o segundo mês consecutivo em que a geração de empregos formais teve saldo positivo, após o agravamento da crise, no último trimestre de 2008.

O dado negativo deste primeiro trimestre aponta para um ano difícil na recuperação de oferta de novos empregos formais, especialmente se comparado ao saldo positivo de 554,4 mil vagas registradas em igual período de 2008.

Na indústria, o resultado do primeiro trimestre deste ano ficou negativo em 147,3 mil vagas, ante saldo positivo de 146 mil vagas em igual período de 2008. Em março, foram 35,7 mil mais demissões que contratações. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, avaliou que vários segmentos da indústria estão reagindo e, por isso, o saldo de empregos na indústria poderá voltar ao positivo em abril.

O comércio também demitiu mais que contratou no trimestre, tendo saldo negativo de 70,7 mil empregos, na contramão do que ocorre nesta época do ano. A explicação é a cautela dos empresários do setor em relação ao nível de vendas e, por isso, aproveitaram este ano menos empregados temporários do que em anos anteriores.

A boa notícia, segundo Lupi, é que o saldo negativo no comércio se reduziu nesses três meses, pois em janeiro foi 50,7 mil e caiu para 9,6 mil em março. Para Lupi, a "curva do emprego no País está ascendente".

Ele antecipou, sem arriscar números, que em abril o Caged deverá voltar a registrar novo saldo positivo. "Março é o mês da virada no mercado formal de trabalho", comemorou. O Caged registra todas as demissões e contratações feitas por todas as empresas pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Em março, com o acréscimo das 34,8 mil novas vagas, o estoque de empregos com carteira assinada na economia atingiu 31,9 milhões.

Por causa da crise, que reduziu o crédito e afetou as exportações brasileiras, o mercado de trabalho formal começou a se deteriorar em outubro. O auge do corte de vagas foi em dezembro, quando o saldo de empregos ficou negativo em quase 655 mil e todos os setores da economia fecharam postos de trabalho. Até março, houve reações localizadas graças às desonerações fiscais e aos incentivos do governo ao consumo.

O setor de serviços é o que apresentou recuperação mais visível do indicador de empregos formais. Em março, houve 49,2 mil mais admissões que demissões e, no trimestre, o saldo ficou positivo em 59,9 mil. Pelo Caged, os serviços ligados à educação se destacaram após a volta às aulas. Serviços de administração de imóveis, transportes e comunicações também voltaram a contratar mais.