Título: Analistas têm dúvidas sobre recuperação do IED
Autor: Gobetti, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2009, Economia, p. B3

O ingresso de US$ 5,342 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED) no primeiro trimestre indica que o Brasil ainda pega carona nos planos de empresas e bancos do período pré-crise, na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. "A tendência é que daqui para frente a queda dos investimentos se intensifique."

Segundo ele, o setor que mais sentiu a crise foi o de extração mineral. No primeiro trimestre de 2008, os investimentos nessa atividade representavam 24% do total. Agora, representam 4,1%, resultado da queda do preço das commodities e da baixa demanda mundial por minérios. Em contrapartida, a indústria ganhou espaço, passando de 31,5% para 51,2% dos investimentos estrangeiros. Isso se deve a projetos como o da MAN, que comprou a fábrica de caminhões da Volkswagen.

O economista da MCM Consultores Antonio Madeira diverge de Lima. Para ele, a queda do IED é pontual e no segundo semestre a economia deve começar a se recuperar. "Houve diminuição de investimento ou desinvestimento. Mas esses números são pontuais. A expectativa para o IED é de melhora, voltando à média de US$ 2 bilhões ou US$ 2,5 bilhões por mês."

Para Antônio Correa de Lacerda,professor da PUC de São Paulo, os dados divulgados ontem pelo Banco Central apontam um nível entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões de investimento total em 2009. "Esses recursos aplicados no Brasil em projetos de longo prazo devem colaborar para que o déficit de transações correntes caia de US$ 28 bilhões em 2008 para US$ 15 bilhões este ano. Isso será relevante para que ocorra um superávit estrutural do balanço de pagamentos próximo de US$ 20 bilhões em 2009."

Lacerda acredita que o fluxo de recursos para o País deve ser destaque entre os emergentes em 2009. "Os investimentos de longo prazo estão sendo mantidos no País porque há uma maturidade econômica e política. Independentemente de quem for o sucessor do presidente Lula, o Brasil deverá manter uma rota de expansão sustentável com desenvolvimento social."