Título: Emissão de R$ 13 bi para o BNDES eleva dívida em 1,64%
Autor: Gobetti, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2009, Economia, p. B3

Reforço no caixa do banco para ajudar empresas fez montante da dívida interna chegar a R$ 1,27 trilhão

Fabio Graner e Renata Veríssimo

O reforço no caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar empresas brasileiras em meio à crise contribuiu para um efeito colateral: o aumento de 1,64% na dívida interna em títulos. Em março, o Tesouro fez a primeira emissão de títulos com o objetivo de dar recursos ao banco. A colocação de R$ 13 bilhões em Letras do Tesouro Nacional (LTN), papéis com rentabilidade fixa (pré-fixados), ajudou a elevar a dívida para R$ 1,27 trilhão. O dinheiro faz parte dos R$ 100 bilhões anunciados pelo governo para garantir a oferta de crédito para a economia e "socorro" às empresas.

A emissão para o BNDES levou a uma mudança no perfil do endividamento do País, com aumento na participação dos pré-fixados, teoricamente de melhor qualidade por serem mais previsíveis para o caixa do Tesouro, e na parcela a vencer em 12 meses, um dado negativo, que indica uma necessidade maior de pagamento no curto prazo, elevando o risco.

Esse movimento deve ser revertido neste mês. Para fazer o dinheiro chegar ao caixa do BNDES, o Tesouro usou caminho complicado: emitiu as LTNs para o BNDES e recebeu em troca um contrato em que o banco assume a dívida e se compromete a pagar com juros que estão em 8,75% ao ano. Essas LTNs tinham vencimento em 1º de abril e, no seu resgate, o Tesouro entregou o dinheiro ao banco e ficou com o contrato. Dessa forma, as contas de abril contabilizarão redução de R$ 13 bilhões, relativa ao resgate, bem como redução da parcela prefixada e a vencer em 12 meses.

Segundo o Tesouro, a dívida pré-fixada subiu de 28,4% para 30,09% do total da dívida interna. A parcela vinculada à taxa Selic, com rentabilidade pós-fixada, passou de 38,66% para 37,18%. Os títulos que vencem em até um ano subiram sua participação de 29,9% para 32,28%.

Os títulos vendidos para pessoas físicas, por meio do programa Tesouro Direto, totalizaram R$ 179 milhões em março, valor recorde para o mês. A venda é 100,7% superior a março de 2008 e 69,8% maior que em fevereiro deste ano. Segundo o Tesouro, o valor médio por operação em março foi de R$ 18,11 mil. Mas as operações de pequenos poupadores, de até R$ 5 mil, corresponderam a 59,9% do volume. O estoque total do Tesouro Direto alcançou o valor de R$ 2,7 bilhões, aumento de 70,4% em relação a março de 2008.

A participação dos investidores estrangeiros na dívida interna em títulos caiu. Em fevereiro, respondiam por 5,75% do estoque (R$ 68,7 bilhões). Em janeiro, por 6% (R$ 69,2 bilhões). Em agosto, 7,37% (R$ 82,3 bilhões). O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Guilherme Pedras, disse que há um retorno suave dos investidores estrangeiros.