Título: Bancos públicos dominam crédito durante a crise
Autor: Nakagawa, Fernando; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2009, Economia, p. B1

Em 12 meses, a expansão foi de 37% e nos bancos privados, de 19%

Os bancos públicos seguem como motor do crédito no Brasil, movimento iniciado com o agravamento da crise financeira internacional. De acordo com dados do Banco Central (BC), o crédito fornecido pelas instituições públicas cresceu 2,1% em março, na comparação com fevereiro, enquanto o estoque de empréstimos dos bancos privados nacionais avançou 0,2% e o de instituições estrangeiras, 0,6%.

Nos últimos 12 meses, enquanto os bancos públicos cresceram 37,1%, as instituições privadas nacionais e estrangeiras tiveram, respectivamente, expansão de 19,1% e 17,8%. O próprio chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, chamou atenção para esse comportamento.

Segundo ele, embora esteja voltando à normalidade, o crédito ainda está muito concentrado nos bancos públicos e, para a situação voltar ao normal, o crédito precisa crescer também no setor privado. "Esse crescimento precisa ser mais disseminado", disse.

Altamir destacou que, de setembro de 2008, mês que marca o início da crise, até março deste ano, o crédito nos bancos públicos cresceu 18,3%, enquanto nos bancos privados nacionais avançou 1,5% e nos estrangeiros, 3,5%.

Os números do BC mostram ainda que a participação dos bancos públicos no crédito em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) tem crescido fortemente desde setembro de 2008. Em março equivalia a 16% do PIB, ante 13,2% em setembro de 2008.

Ele enfatizou que o movimento de retomada do crédito precisa ocorrer nos bancos pequenos e médios, os que mais sofreram com a falta de dinheiro no mercado. Altamir lembrou o novo Recibo de Depósito Bancário (RDB), que permite captação de recursos pelos bancos pequenos e médios com garantia de até R$ 20 milhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).Segundo ele, neste mês, quando se iniciou essa modalidade, até o dia 21, foram levantados R$ 3,2 bilhões. Ou seja, para ele, o RDB ainda vai surtir efeito nos indicadores.

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Gomes, chama a atenção para o ganho de mercado dos bancos públicos. Em setembro, instituições como o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal tinham 34% do total de crédito bancário, índice que subiu para 38% em março.

"Esses bancos ganharam mercado principalmente até janeiro e fevereiro. Desde então, os privados estão mais atuantes porque a cautela das instituições está diminuindo e eles podem estar tentando correr atrás dos concorrentes públicos", diz.