Título: Juros bancários caem e voltam ao nível pré-crise
Autor: Graner, Fabio; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2009, Economia, p. B3

A recuperação acompanhou a queda da Selic, mas o spread bancário continua em patamar elevado

Fabio Graner e Fernando Nakagawa

És juros cobrados pelos bancos voltaram aos níveis anteriores à crise. Mas a causa desse movimento é mais a queda dos custos de captação - que reflete a trajetória da taxa básica (Selic) do que a redução da margem de ganho dos bancos. Os spreads seguem acima dos de antes de setembro. Isso significa que as instituições financeiras não repassaram aos clientes os ganhos com a queda da Selic.

Segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), a taxa média no crédito com recursos livres foi de 39,2% ao ano em março, 2,1 pontos porcentuais menor que a de fevereiro e 40,1% menor que a de agosto de 2008, antes da crise. Já o spread médio recuou 1,2 ponto porcentual, para 28,5 pontos porcentuais ao ano. Em setembro, estava em 26,4 pontos.

A queda no custo do dinheiro - que é quanto o banco paga para consegui-lo - foi generalizada, ficando de fora apenas o cheque especial (pessoa física) e a conta garantida (pessoa jurídica). Em ambos os casos, os juros e os spreads subiram. No cheque, aumentou 2,4 pontos ante fevereiro, para 169,1% ao ano. É a mais alta entre todos os empréstimos. A Selic corresponde a menos de um décimo do juro do cheque especial.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, associou o movimento nessas modalidades ao aumento dos atrasos inferiores a 90 dias (no caso do cheque especial) e na inadimplência (na conta garantida, que é uma espécie de cheque especial das empresas). Em ambos os casos, os indicadores de atraso foram os mais altos da série.

Nas demais linhas, houve redução dos juros. No crédito pessoal, por exemplo, a taxa caiu 3,7 pontos entre fevereiro e março, para 50,8%. O financiamento de veículos ficou 2,1 pontos mais barato, com taxa de 29,7% ao ano. Para as empresas, o juro do capital de giro cedeu 2,1 pontos, para 33,9%.

Altamir afirmou que ainda vê espaço para queda nas taxas de juros, o que deve estimular o crescimento do crédito nos próximos meses. Segundo ele, apesar de os juros finais já estarem no nível pré-crise, os spreads ainda não estão, o que indica espaço para cortes nas taxas cobradas dos consumidores.

A situação sob controle da inadimplência deve sustentar esse movimento de queda dos spreads e dos juros, diz o chefe do Departamento Econômico. Além disso, ele lembrou, as taxas de captação continuam caindo. "A expectativa é que a taxa de crescimento do crédito fique mais forte tanto para pessoa jurídica como para pessoa física nos próximos meses", disse.