Título: Brasil traça meta comercial com a China
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2009, Economia, p. B9

Plano para o período de 2010 até 2014 prevê crescimento de negócios e investimentos, e será lançado durante a visita do presidente Lula ao país

Cláudia Trevisan

Brasil e China vão anunciar em maio um plano quinquenal de ação para o período de 2010 a 2014, com metas detalhadas de crescimento do comércio bilateral, investimentos e cooperação em vários setores, incluindo o espacial. Primeiro do gênero, o documento será lançado durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim de 18 a 20 de maio e deverá dar impulso à relação bilateral.

A crise global e a recessão nos Estados Unidos aumentaram a relevância da China para a economia brasileira. No primeiro trimestre, as exportações para o país asiático cresceram 62,7%, enquanto os embarques totais tiveram retração de 19,4%. O mercado chinês absorveu US$ 3,4 bilhões das vendas do período, valor próximo dos US$ 3,6 bilhões destinados ao americano, tradicionalmente o maior cliente brasileiro. Em março, pela primeira vez na história, as exportações para a China superaram as realizadas para os EUA - os valores ficaram em US$ 1,74 bilhão e US$ 1,27 bilhão, respectivamente.

A China ainda concedeu financiamento de US$ 10 bilhões à Petrobrás para exploração da camada pré-sal no litoral brasileiro e aumentou investimentos em vários setores no Brasil. "No encontro que tiveram em Londres no início de abril, durante a reunião do G-20, o presidente Lula e o presidente Hu Jintao destacaram a necessidade de levar a relação bilateral a um novo patamar", disse ao Estado o embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney.

O diplomata ressaltou que o país asiático ganhou peso ainda maior com a retração econômica global. "Quem vai crescer a taxas elevadas nos próximos anos? Só há um país, a China, que quer intensificar seu relacionamento com o Brasil."

O fortalecimento dos laços bilaterais esteve no centro da visita de Lula à China em 2004, mas houve poucos avanços desde então, fora da área comercial. A intenção agora é dar vida aos mecanismos permanentes de consulta e negociação criados naquela época, que têm sido pouco utilizados.

O mais importante deles é a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação e Coordenação (Cosban), presidida pelo vice-presidente José Alencar e pelo vice-primeiro-ministro da China Wang Qishan. Até hoje, o grupo fez apenas uma reunião, em março de 2006, na China. A segunda será no segundo semestre, no Brasil, quando será aprovada a versão final do plano para 2010-2014. A ideia é que os encontros ocorram a cada seis meses, em modelo semelhante ao diálogo estratégico que a China mantém desde 2006 com os Estados Unidos.

Hoje ocorre em Pequim a primeira reunião de vice-ministros da subcomissão econômico-comercial da Cosban, que "passará em revista" todas as questões do comércio bilateral.Nos últimos dois dias, representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, do Desenvolvimento, da Agricultura e da Justiça se reuniram com seus pares chineses.