Título: Lula rebate previsões do FMI
Autor: Kuntz, Rolf; Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2009, Economia, p. B12

Na Argentina, presidente critica influência do Fundo

Ariel Palacios

"Eu não quero ser desrespeitoso com ninguém, mas quero dizer algo: o Brasil só deu certo quando foi dono do seu nariz. Quando não aceitava que pessoas de fora dissessem o que a gente devia fazer", disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita à Argentina, onde se reuniu com a presidente Cristina Kirchner.

No almoço oferecido em sua homenagem no Palácio San Martín, Lula rebateu as previsões de queda da economias brasileira e argentina para este ano feitas na quarta-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O presidente afirmou que "as pessoas não podem mais tratar a América do Sul como faziam nos anos 80 e 90, quando davam palpite em nossas vidas e vinham dizer qual política fiscal devíamos adotar".

Segundo Lula, "se eles tivessem sido fiscalizadores das finanças mundiais, como foram da Argentina e do Brasil, já saberíamos da crise três anos antes. E, agora, eles já começam a dizer quando é que a Argentina vai crescer, quando é que o Brasil vai crescer".

Lula afirmou que nunca teve "medo de crise". "Sou de uma cidade tão miserável que menino que tinha medo de crise nem nascia!" Para Lula, a crise é "uma oportunidade fantástica para a gente fazer, de forma ousada, tudo aquilo que não fazíamos antes porque havia normas do FMI, do Banco Mundial. Agora temos de criar nossas normas!"

Para ele, a melhor forma de sair dessa crise "com força" é a integração com a Argentina. Lula amenizou os conflitos entre empresários de ambos os lados da fronteira e optou por fazer alusões indiretas às medidas protecionistas aplicadas pelo governo Cristina, que prejudicam 14% das vendas brasileiras ao mercado argentino.

Os dois presidentes conversaram sobre a construção da hidrelétrica binacional de Garabi sobre o Rio Uruguai e outras obras. Fontes do governo brasileiro indicaram que a equipe brasileira tentou convencer a argentina a adotar o mesmo sistema de TV digital do Brasil, sob avaliação há três anos.