Título: Strauss-Kahn está errado sobre bancos brasileiros
Autor: Kuntz, Rolf; Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2009, Economia, p. B12

Mantega contesta declaração do diretor do FMI sobre a possibilidade de problemas nas instituições do País

Rolf Kuntz e Patrícia Campos Mello

Os bancos brasileiros continuarão dando lucro neste ano e não há o risco de serem afetados mais seriamente pela crise, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagindo à declaração do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, numa entrevista a quatro jornais da América Latina. Segundo Strauss-Kahn, os bancos latino-americanos não foram contaminados pela crise originada no mercado hipotecário dos Estados Unidos, mas poderão ter problemas se a crise se prolongar.

Os bancos brasileiros são os maiores da América Latina e não tiveram prejuízo, ao contrário dos americanos e europeus, mesmo quando a crise se agravou, disse Mantega. "Strauss-Kahn está totalmente equivocado em relação aos bancos brasileiros", disse o ministro. "Os bancos brasileiros continuarão tendo lucros em 2009, passarão pela crise numa situação sólida", disse Mantega.

Além disso, argumentou, o pior da crise para o Brasil já passou. O ministro prometeu cobrar um esclarecimento de Strauss-Kahn num encontro previsto para ontem à noite. "Não só vou dizer a ele que está enganado, mas vou apresentar uma série de tabelas mostrando a situação dos bancos brasileiros; ele deveria saber disso, acho que ele cometeu algum deslize de linguagem."

Mantega também contestou as novas previsões do FMI para a economia brasileira, de contração de 1,3% neste ano e expansão de 2,2% em 2010. O Brasil, disse o ministro, estará mais próximo da China e da Índia. O crescimento deste ano será pequeno, admitiu, mas será positivo, e no próximo ano deverá ficar entre 4,5% e 5%. O primeiro semestre de 2009 ainda será fraco, mas o resultado será melhor que o do fim do ano passado, acrescentou. Para ele, as medidas contra a crise, como a redução de impostos de automóveis e eletrodomésticos da linha branca, já dão resultado.

O FMI, disse Mantega, precisa apressar a execução das ações recomendadas pelos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20) na reunião de 2 de abril, em Londres. Essas medidas incluem a emissão de Direitos Especiais de Saque (DES) no valor de US$ 250 bilhões e a criação de um título especial para a captação de recursos. O governo brasileiro espera a emissão desse papel para decidir sua contribuição. Além disso, o governo já resolveu emprestar US$ 4,5 bilhões ao Fundo, respondendo ao convite para ingressar no clube de credores da instituição.