Título: Turbinado pelo G-20, FMI discute crise global
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2009, Economia, p. B6

Novas atribuições ampliaram papel do Fundo

Rolf Kuntz

A recuperação dos bancos, o combate à maior recessão dos últimos 70 anos e a ajuda aos países mais atingidos pela crise estarão entre os grandes temas da reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta semana. Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais de todo o mundo discutirão com os dirigentes do FMI como cumprir as missões atribuídas à instituição pelos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20) no encontro de Londres em 2 de abril.

Parte da tarefa - pôr em ação a nova linha de crédito flexível - já foi iniciada com a aprovação, na última semana, de um financiamento de US$ 47 bilhões ao México, o maior da história do Fundo. O próximo acordo será provavelmente assinado com a Polônia e envolverá uma ajuda de US$ 20,5 bilhões.

A criação dessa linha de crédito foi aprovada no ano passado, depois de anos de discussão. Tem caráter preventivo, é isenta das condições tradicionais e destina-se a países com políticas econômicas consideradas saudáveis. O México preenche essas condições, segundo os dirigentes do FMI, mas foi afetado pela queda dos preços do petróleo e pela recessão nos Estados Unidos, destino de mais de 80% de suas exportações. O vice-diretor gerente da instituição, John Lipsky, descreveu com "marco histórico" o acordo com o México.

As estimativas do FMI sobre a extensão e a duração da crise têm piorado desde as projeções divulgadas na assembleia anual de outubro de 2008. Na semana passada, foram distribuídos os capítulos analíticos do novo Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook, em inglês). Esse documento é publicado em abril, na reunião de primavera, e em setembro ou outubro, na assembleia anual.

Segundo os capítulos divulgados na semana passada, a recessão global iniciada no ano passado deverá ser mais demorada que a maioria das contrações econômicas das últimas décadas. Essa é a tendência verificada pelos especialistas quando as crises têm origem no setor financeiro e a maior parte das grandes economias entra em recessão simultaneamente, como ocorreu desta vez.

As novas projeções para este ano e para 2010 devem ser conhecidas hoje, quando forem distribuídos os capítulos de conjuntura do novo Panorama.

Para hoje está prevista a divulgação do Relatório de Estabilidade Financeira, com novas estimativas do valor dos créditos podres do sistema financeiro e do custo de capitalização dos bancos. A expectativa é de números piores que os divulgados anteriormente.

Na semana passada, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, apontou o saneamento do setor bancário como a prioridade mais alta neste momento. Sem a limpeza dos créditos podres (também conhecidos como tóxicos), especialistas do Fundo e economistas independentes dizem que as instituições financeiras não voltarão a operar normalmente.

A agenda do Fundo para esta semana deverá incluir, também, discussões sobre os detalhes práticos dos novos empréstimos e novas contribuições para reforço do capital do Fundo. O Brasil deve participar com pelo menos um empréstimo de US$ 4,5 bilhões, segundo informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, há poucos dias.

Também falta detalhar como será a nova cooperação entre o Fundo e o Conselho de Estabilidade Financeira no monitoramento dos fluxos internacionais de capitais e na operação do sistema de alerta rápido contra riscos.

Essa cooperação já ocorria, e seu aprofundamento foi recomendado em outubro de 2008 pelo Comitê Monetário e Financeiro Internacional, formado por 24 ministros autorizados a falar em nome dos 185 países-membros do FMI. Esse comitê é o principal órgão de orientação política da instituição.

O G-20 reforçou essa recomendação e propôs também a ampliação do Fórum de Estabilidade Financeira, antes formado só por representantes de economias avançadas. O novo Fórum, agora chamado Conselho (Board) de Estabilidade Financeira, representará todos os países-membros do G-20.

O G-20 também recomendou a triplicação do capital do FMI (de US$ 250 bilhões para US$ 750 bilhões) e a duplicação dos empréstimos em condições especiais aos países mais pobres. A concretização dessas medidas também deverá entrar na pauta da reunião de primavera.

O encontro de ministros ocorrerá oficialmente nos dias 24 a 26, mas antes disso haverá muitos encontros políticos, além da divulgação e da discussão das novas projeções preparadas pelos técnicos do Fundo Monetário Internacional.