Título: Ousadia de geólogo abriu caminho para o pré-sal
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2009, Economia, p. B8

General Ernesto Geisel, que presidia a Petrobrás em 1973, quase desistiu da Bacia de Campos

Nicola Pamplona, RIO

Reza a lenda que, em 1973, o geólogo Carlos Walter Marinho Campos peitou o então presidente da Petrobrás, general Ernesto Geisel, que queria interromper a perfuração de um poço no litoral carioca, diante do desânimo das equipes com o iminente fracasso da empreitada. A ousadia teria sido fundamental para que o Brasil se tornasse, três décadas depois, autossuficiente na produção de petróleo: 200 metros abaixo, o poço encontrou o que viria a ser o campo de Garoupa, o primeiro da prolífica Bacia de Campos.

Três anos antes, a empresa havia perfurado um primeiro poço na Bacia de Santos, mas não encontrara petróleo. O fracasso no litoral paulista poderia ter sido evitado, dizem geólogos, caso a broca de perfuração percorresse mais alguns quilômetros. "Os reservatórios da Bacia de Santos são muito profundos, com mais de 5 mil metros, o que encarece demais o custo de exploração", explica o geólogo Giuseppe Bacoccoli, ex-Petrobrás.

A Bacia de Santos foi deixada de lado nas duas décadas seguintes e redescoberta no início dos anos 2000. "Os esforços estavam centrados em Campos e ninguém queria pagar para ir mais fundo em Santos", recorda Bacoccoli. Em 1999, já diante de um possível esgotamento de Campos, a Petrobrás descobriu as primeiras reservas gigantes de Santos, Tambaú e Uruguá, com pelo menos 600 milhões de barris.

"Foi o passo fundamental para que se começasse a apostar em Santos. Foi quando se confirmou a existência de uma rocha geradora de petróleo na região", conta o geólogo Márcio Mello, um dos primeiros entusiastas do pré-sal no Brasil. No início da década de 90, a equipe de exploração da Petrobrás conseguiu convencer a direção da companhia e alguns parceiros internacionais a apostar no que é hoje chamado de área do pré-sal, onde foram descobertos Tupi, Júpiter, Carioca e outros.

Para Mello, as reservas de Santos serão fundamentais para manter o ritmo de crescimento da produção nacional, compensando o esgotamento das jazidas de Campos. Maior produtor nacional, Marlim, por exemplo, produz hoje cerca de 60% do que produzia em 2002, quando atingiu o pico de produção. O declínio é natural e vai ocorrer em todos os projetos que hoje garantem a autossuficiência brasileira.

Santos, porém, é uma bacia nova, com grandes áreas potenciais. Além da região de Tupi, a Petrobrás aposta nos polos de Tambaú-Uruguá, mais ao norte; Mexilhão e Merluza, em águas rasas; e no novo polo sul da bacia, com grande potencial para óleo leve, onde descobriu recentemente o campo de Piracucá, com pouco menos de 200 milhões de barris.