Título: Exploração de petróleo em SP vai mudar a cara do litoral norte
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2009, Economia, p. B8

Região receberá uma série de empreendimentos, como estaleiro, bases de apoio e unidade de tratamento de gás

Nicola Pamplona, RIO

A exploração de petróleo na Bacia de Santos vai mudar a cara do litoral norte de São Paulo. Com a inauguração, nesta sexta-feira, do teste de longa duração do Campo de Tupi, a Petrobrás dá o passo inicial para o desenvolvimento do que pode vir a ser a maior bacia produtora de petróleo do País, desbancando a Bacia de Campos. A reboque, o governo do Estado já vislumbra uma série de investimentos para internalizar parte dos benefícios criados pela indústria petrolífera.

A perspectiva é que pelo menos um estaleiro e duas bases de apoio para a exploração de petróleo em alto-mar sejam construídos em algum ponto entre o estuário de Santos e Ubatuba. Quatro estradas serão ampliadas para melhorar a infraestrutura rodoviária, já saturada pela demanda turística. Em Caraguatatuba, a Petrobrás conclui as obras da unidade de tratamento de gás que vai receber a produção de Mexilhão, primeiro campo de porte a entrar em produção definitiva na bacia, já em 2010.

Todos os projetos constam de relatório que será concluído em julho pela Comissão Especial de Petróleo e Gás do governo do Estado de São Paulo (Cespeg). O trabalho tem como objetivo preparar o litoral do Estado para receber petroleiras e prestadoras de serviços para a atividade de exploração e produção na Bacia de Santos, que deve chegar a 2020 com uma produção superior a 2 milhões de barris por dia - volume maior do que o produzido hoje no País.

"A Bacia de Santos vai ser mais importante do que a Bacia de Campos", disse o diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella. De fato, além do potencial extraordinário de reservas - apenas no pré-sal podem superar os 50 bilhões de barris, segundo algumas estimativas - a região tem óleo de boa qualidade, com alto valor de venda no mercado internacional.

Segundo projeção da estatal, o pré-sal de Santos estará produzindo 1,8 milhão de barris por dia em 2020. Além disso, a empresa vem fazendo descobertas importantes em outras regiões da bacia, que se estende por uma área de 350 mil quilômetros quadrados entre Santa Catarina e a Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.

A atividade exploratória em Santos atrai também diversas empresas privadas, como as novatas Vale e OGX, além de multinacionais de grande porte. "Em Campos, a Petrobrás levou 24 anos para chegar a 1 milhão de barris por dia. Em Santos, isso vai acontecer em 12 anos", diz o secretário executivo do Cespeg, José Roberto dos Santos.

O comitê é subdividido em nove grupos, que avaliam medidas para que o Estado se beneficie da atividade petrolífera. Os primeiros resultados devem sair em setembro, com o lançamento dos editais para a concessão de quatro estradas que ligam as regiões mais industrializadas ao litoral norte: a Rio-Santos, a Mogi-Bertioga, a Tamoios e a Oswaldo Cruz.

Além disso, já foram identificadas cinco áreas propícias à construção de instalações industriais de apoio, como o estaleiro e as bases de onde saem equipamentos e suprimentos para as plataformas. Santos calcula que duas bases serão suficientes para garantir um movimento de cerca de 170 embarcações por dia, semelhante ao de Macaé, onde está o apoio terrestre da Bacia de Campos. As duas unidades, diz, terão retroárea para a instalação de empresas fornecedoras.

BENEFÍCIOS FISCAIS

O pacote do governo estadual inclui benefícios fiscais para a indústria do petróleo e a utilização do recém-criado banco de fomento Nossa Caixa Desenvolvimento para financiar a instalação de fábricas. "O fundo será realimentado com parte do dinheiro dos royalties que o Estado vai receber", diz Santos.

"A indústria paulista sempre viu o petróleo como uma atividade econômica carioca, distante do Estado. Queremos mudar essa visão", comenta o diretor da área de petróleo do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti. Segundo ele, há hoje pelo menos 150 empresas se preparando para o credenciamento como fornecedora da Petrobrás.

"São Paulo tem 40% da indústria nacional. É natural que abocanhe fatia semelhante dos investimentos da Petrobrás", completa Cavalcanti, que vê na chegada da Petrobrás ao Estado, com a transferência das atividades da Bacia de Santos para a cidade de Santos, um importante movimento de aproximação entre a indústria local e a estatal.