Título: Dilma trata câncer linfático e diz que mantém ritmo de trabalho
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2009, Nacional, p. A4

Candidata de Lula para sua sucessão em 2010, ministra da Casa Civil confirma doença em entrevista coletiva

Silvia Amorim

Principal nome do governo para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, confirmou ontem que há cerca de três semanas se submeteu a cirurgia para retirada de um tumor na axila esquerda no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. Segundo os médicos, a biopsia detectou, há três dias, que se tratava de um linfoma - um tipo de câncer no sistema linfático.

O anúncio sobre o quadro de saúde da ministra, de 61 anos, foi feito à tarde. A própria Dilma, em entrevista no hospital, revelou a doença e disse estar diante de um novo desafio em sua vida. Ela desconversou sobre um eventual impacto do câncer nos planos de lançar-se candidata à Presidência e disse que manterá a rotina de trabalho.

"O que está em pauta é enfrentar esse desafio e sair mais forte do lado de lá", afirmou. "Do ponto de vista da minha atividade, vou mantê-la no mesmo ritmo, até porque não há incompatibilidade entre uma coisa e outra. O tratamento não implica que eu tenha de me retrair. Pelo contrário, acho que vai ser até um fator para me impulsionar."

O nódulo extraído tinha cerca de 2 centímetros e foi descoberto, há cerca de 30 dias, durante tomografia de rotina na região do tórax. "Fizemos um rastreamento no organismo da ministra e o nódulo estava localizado", explicou o cardiologista Roberto Kalil, médico pessoal de Dilma e de Lula. Ela disse que faz exames de prevenção com regularidade. O último havia sido há um ano e dois meses.

A hematologista Yana Augusta Sarkis Novis explicou que a chance de cura é de mais de 90% porque a doença foi descoberta em estágio inicial. "Graças aos exames, o diagnóstico foi precoce. A ministra tinha um linfoma em estágio inicial, pequeno e que foi retirado", disse. "As perspectivas são as melhores. Ela vai fazer quimioterapia apenas complementar e por, mais ou menos, quatro meses", completou o oncologista Paulo Hoff, que integra a equipe que assiste a ministra.

TRANQUILIDADE

Dilma disse que recebeu a notícia "como qualquer pessoa", mas agora está tranquila. "Ninguém gosta de saber que está com uma doença. Mas recebo com tranquilidade, porque tive a sorte de ter esse diagnóstico precoce."

Também se mostrou otimista com a cura. "Estou certa de que vai ser algo que será superado", afirmou. E falou em desafios: "Acho que na vida sempre ficamos diante de desafios. Esse é mais um que vou ter. Tenho certeza de que, como milhares de homens e mulheres anônimos que enfrentam esse processo, o meu objetivo é enfrentar e viver minha vida de forma bastante intensa. Tenho de comemorar a vida diante da doença."

Dilma fará uma sessão de quimioterapia a cada três semanas. Cada uma dura em torno de quatro horas, mas, segundo os médicos, ela será liberada no mesmo dia, podendo voltar a trabalhar normalmente. Os efeitos colaterais seriam mínimos, na avaliação da equipe médica, porque a dosagem da medicação é pequena.

A ministra está usando um cateter para facilitar a aplicação dos remédios. "Tenho veias horríveis", brincou Dilma.

CIRURGIA

A causa do tumor é desconhecida. A literatura médica indica que podem ser vários os fatores. "Mas sabemos que é um problema predominante em países desenvolvidos. Até algum tipo de vírus pode ser a causa. Mas nada disso foi constatado na ministra", explicou Yana.

Para a extração do tumor, chamado de linfoma B de grande célula, foi realizado um procedimento cirúrgico simples em ambulatório, que durou 45 minutos. Não foi preciso anestesia, apenas uma sedação.

O anúncio do estado de saúde da ministra foi cercado de suspense. Kalil, ao chegar ao hospital, não quis dar declaração. Dilma, que entrou pela porta da frente do Sírio-Libanês minutos depois, acompanhada do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins, também não deu entrevista. Sorridente, maquiada e de cabelo escovado, apenas pediu aos repórteres que esperassem pela entrevista coletiva.

Dilma ficou sabendo que o tumor era maligno há três dias. Mas à mãe, à filha e ao presidente Lula ela somente deu a notícia anteontem à noite.

A ministra é hoje o principal nome do governo para a sucessão de Lula. A intenção de lançá-la candidata já foi anunciada pelo próprio presidente. Desde o início do ano, ela intensificou sua agenda política e até fez no fim do ano passado uma cirurgia para suavizar as linhas de expressão do rosto.

Dilma agradeceu publicamente ontem à equipe médica. "Quero dizer que me sinto muito segura."

FRASES

Dilma Rousseff Ministra da Casa Civil

"O que está em pauta é enfrentar esse desafio e sair mais forte do lado de lá"

"Do ponto de vista da minha atividade, eu vou mantê-la no mesmo ritmo, até porque não há uma incompatibilidade entre uma coisa e outra"

"Recebi como qualquer pessoa. Ninguém gosta de saber que está com uma doença. Mas recebo com tranquilidade, porque tive a sorte de ter esse diagnóstico precoce"