Título: Campeão em viagens tem atuação discreta na Casa
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2009, Nacional, p. A8

Pedetista Dagoberto Nogueira Filho lidera ranking do uso da cota de passagens para voos internacionais

Marcelo de Moraes, BRASÍLIA

Parlamentar de primeiro mandato no Congresso, o deputado Dagoberto Nogueira Filho (PDT-MS) surpreendeu ao encabeçar o ranking do número de viagens internacionais feitas com a cota de passagens aéreas da Câmara, com a emissão de 40 bilhetes. Integrante da bancada ruralista, aos 53 anos, Dagoberto, paulista de São José do Rio Preto, tem uma atuação discreta no Congresso. Mas ocupou espaços importantes no governo de Mato Grosso do Sul, especialmente nos dois mandatos de José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, entre 1999 e 2006.

Foi justamente durante a administração de Zeca do PT que o deputado conseguiu sua maior visibilidade política. Foi eleito deputado estadual, mas se licenciou do cargo para ocupar a estratégica Secretaria Estadual de Justiça. A projeção política foi tão boa que decidiu deixar o posto para poder concorrer à Prefeitura de Campo Grande. Acabou em terceiro lugar, com 52.929 votos, atrás do petista Vander Loubet - hoje deputado federal - e de Nelsinho Trad (PMDB), que foi eleito.

De volta à Assembleia Legislativa, foi novamente convidado a integrar a equipe de Zeca do PT, assumindo outra secretaria, a de Produção e Turismo. Pensou em concorrer novamente à prefeitura, mas não conseguiu viabilizar politicamente a candidatura.

Como deputado estadual, Dagoberto já abrira polêmica com os ambientalistas ao apresentar projeto que dava permissão para o plantio de cana de açúcar em áreas do Pantanal. Grupos de ambientalistas protestaram, avaliando que a proposta prejudicaria o ecossistema local.

Na ocasião, Dagoberto se defendeu afirmando ser contra o plantio da cana na planície "por ser prejudicial ao ecossistema pantaneiro", mas apoiando o plantio na região de planalto, por reduzir "a agressão ao solo, que causa erosão e assoreamento dos rios".

"Hoje, as plantações de algodão, milho ou soja são feitas três vezes por ano: safra, entressafra e safrinha, o que obriga o produtor a revolver o solo, fazendo a terra ser levada aos rios, assoreando-os", afirmou Dagoberto na época. "Com a cana isso não ocorre. A terra é revolvida a cada seis anos, a raiz é superficial e isso segura a terra."

DOAÇÃO E BENS

No Congresso, o deputado se alinhou com a bancada ruralista. Na declaração de bens que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), listou duas fazendas em Mato Grosso do Sul. Uma de 1.066 hectares, em Aquidauana, declarada por ele como tendo valor de R$ 502 mil. E outra em Anastácio, com 649 hectares, declarada com valor de R$ 416 mil.

Nas doações da sua campanha para deputado federal, em 2006, o setor do agronegócio contribuiu expressivamente. O maior repasse foi feito pela Vista Alegre Açúcar e Álcool, usina instalada em Maracaju, que doou R$ 188 mil. Sua prestação de contas registrou doações de R$ 990.335,67. Mais de um terço desse total saiu de recursos do próprio deputado.

Agora, com a crise política aberta dentro do Congresso pelo uso inadequado das passagens, Dagoberto chama a atenção pela primeira vez, depois que levantamento feito pelo site Congresso em Foco o mostrou como o campeão da emissão de bilhetes internacionais.

Nas 40 viagens internacionais emitidas na cota a que o deputado tem direito, apenas quatro bilhetes saíram em seu próprio nome: dois trechos de ida e volta para Milão, na Itália, um para Miami e outro para Nova York, ambas nos Estados Unidos. Todas as outras viagens para o exterior foram feitas por parentes ou terceiros.

Na época, Dagoberto disse ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que esses dados estavam errados e que tinha feito, no máximo, 20 viagens. "Tudo dentro da legalidade", segundo afirmou ao noticiário.

Procurada pelo Estado, a assessoria de imprensa do deputado informou que ele se encontrava em Mato Grosso do Sul participando de um encontro político e que repassaria o recado para ele. Até o fechamento da edição, o deputado não manteve contato com o jornal.

COLABOROU FABÍOLA SALVADOR