Título: É prudente evitar viagens para o México
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2009, Vida&, p. A26

Entrevista - Jarbas Barbosa: gerente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas); especialista afirma que a preocupação com o novo vírus é "muito grande" e países da América estão mais vulneráveis

Lígia Formenti, BRASÍLIA

O gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, considera "prudente" adiar viagens para o México, país foco das contaminações pelo novo tipo de vírus da gripe. Embora afirme ser cedo para avaliar se o mundo está mais próximo de uma pandemia, ele reconhece que o momento é de alta preocupação. Não por acaso ele resolveu antecipar seu retorno para Washington. "Todos estamos retornando aos postos", explicou. Veja os principais trechos da entrevista.

Qual é a gravidade da situação?

A preocupação é muito grande.Trata-se de um novo sorotipo de vírus da gripe. Uma cepa que se diferenciou e, com a mudança, tornou-se capaz de afetar porcos e humanos. Como é um subtipo novo, chamado H1N1, o organismo não tem habilidade suficiente para se defender. Daí a gravidade dos casos relatados.

Há alguma arma para conter o novo tipo de vírus?

Estudos mostram que o subtipo pode ser tratado com duas drogas: o oseltamivir e o zanamivir. O México tem estoque suficiente de uma das drogas. Se for necessário, a Opas e OMS podem ajudar. Há um acordo com o fabricante. Se for preciso, um estoque com 3 milhões de doses será disponibilizado.

É recomendável que as pessoas tenham o medicamento em casa?

Não, isso é totalmente desaconselhado. O uso indiscriminado do medicamento pode tornar ineficiente a única arma de contenção hoje existente. O remédio tem de ser usado de acordo com as recomendações das autoridades. É preciso lembrar que vários países, incluindo o Brasil, têm estoque estratégico do medicamento. Em um momento de emergência, governos disponibilizam a droga para o país que tiver necessidade. De nada adianta as nações manterem os estoques se não há casos locais. A tarefa número 1 é ajudar países com casos confirmados da doença.

O senhor acha recomendável evitar viagens ao México?

O bom senso diz que é melhor evitar. Até sabermos mais sobre o andamento da doença.

E quem acaba de voltar do país?

Deve ficar atento a sinais suspeitos de gripe. O período de incubação é de uma semana. Se algum sintoma aparecer até o 14º dia, procure um médico imediatamente.

O Brasil corre um risco maior?

Todos os países da América têm de ter uma atenção maior. Pela proximidade, o maior contato, o maior número de voos. Autoridades sanitárias de todos os países já foram alertadas a orientar profissionais de saúde para ficarem atentos e comunicarem casos suspeitos.

É necessário suspender importação de produtos mexicanos?

Especialistas estão avaliando. Mas isso aconteceria somente se for detectada a existência de casos de contaminação em porcos atualmente. Até agora, não foram encontrados animais com o vírus. Não sabemos se isso ocorre por falta de diagnóstico ou se o surto foi isolado, se os porcos contaminados já morreram.

Há risco de consumo dos produtos de origem suína da região?

Não, só se o produto fosse consumido cru. Caso a contaminação se confirme em porcos, será recomendado o extermínio, como ocorreu na Ásia.