Título: Queda dos spreads ainda é insuficiente, diz Meirelles
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2009, Economia, p. B4

Presidente do BC não descarta novas medidas para normalizar o crédito e reduzir os juros bancários

Jacqueline Farid e Adriana Chiarini

O Banco Central adotará novas medidas, se necessário, para normalizar o crédito e reduzir os spreads bancários no País, assegurou ontem o presidente da instituição, Henrique Meirelles. Ele avalia que o crédito já caminha para a normalidade e os bancos públicos estão representando "um papel cada vez mais ativo" nesse processo.

Meirelles admitiu, porém, que o recuo no spread ainda está aquém do esperado. "Os spreads ainda estão muito altos, caíram pouco e (a queda) ainda é insuficiente", disse o presidente do BC em rápida entrevista após cerimônia de posse da diretoria da Câmara Americana de Comércio do Rio.

Na semana passada, o governo anunciou a substituição do presidente do Banco do Brasil, Antonio de Lima Neto. O principal motivo da demissão teria sido uma resistência à pressão governamental para o que banco estatal liderasse um movimento de redução das elevadas taxas de juros bancários.

A restrição de crédito foi o principal canal de contaminação da crise no Brasil. Em palestra, Meirelles listou as medidas adotadas pelo BC para restabelecer a oferta de financiamentos desde o agravamento das turbulências no mercado financeiro internacional, mas reconheceu que, apesar da normalização em curso, "ainda não chegamos lá". Porém, garantiu que a perspectiva é de continuidade na retomada. "A tendência é de que o crédito continue se normalizando; se necessário tomaremos novas medidas."

Para o presidente do BC, a crise chegou à economia brasileira por três vias: crédito, recuo nas oportunidades no comércio internacional e queda na confiança de consumidores e empresários. Ele avalia, como tem dito o presidente Lula, que o Brasil será o primeiro a sair da crise internacional, mas a situação ainda é preocupante.

O presidente do BC mostrou, em apresentação de slides, vários indicadores para reforçar esse argumento. Observou, por exemplo, que houve recuperação de vendas de veículos e a produção caiu menos no Brasil do que em outros países. Ele comentou também que o sinalizador da produção industrial de março da Fundação Getúlio Vargas mostra recuperação ainda em nível baixo em relação ao ano passado. Segundo ele, o consumo de energia elétrica também indica o mesmo.

DÓLAR

Meirelles também deu um recado direto, sobre o dólar, para empresários e operadores de mercado que participaram da solenidade da Câmara Americana. Segundo ele, não é correta a analogia que muitos fazem entre a trajetória dos juros e a cotação da moeda americana. "É a mesma coisa que levou àquele erro dos exportadores, de achar que apenas a taxa de juro influencia a taxa de câmbio."

De acordo com o presidente do BC, existem vários fatores que influenciam o câmbio, como o preço de commodities e a aversão ao risco. Seguindo ele,no momento é difícil determinar uma tendência.