Título: Investimento cresce, mas em ritmo menor
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2009, Economia, p. B1

Governo não tem conseguido elevar os investimentos com rapidez, diz Ipea

Fernando Dantas, RIO

Para o economista Mansueto de Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a entrada da ministra Dilma Roussef na Casa Civil da Presidência da República, em junho de 2005, teve um impacto muito significativo na elevação dos investimentos do governo federal.

Em sua opinião, este efeito foi bem maior do que o do lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro de 2007. "O efeito Dilma foi muito maior do que o efeito PAC", ele diz.

Um dos grandes problemas atuais, porém, para o economista, é que o governo parece ter perdido o poder que teve anteriormente de elevar de forma rápida os investimentos federais a partir do nível irrisório a que eles chegaram em 2003.

Ele atribui a dificuldade a "amarras institucionais", como legislação ambiental, lei de licitações e a forma como é exercido a vigilância do Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU).

Diante da crise e da necessidade de fazer uma política fiscal anti-cíclica (gastar mais para estimular a demanda), só restaria, portanto, pelo lado do gasto, a opção de ampliar despesas de salários, Previdência e custeio.

O Ministério da Fazenda foi procurado pelo Estado para comentar a análise de Almeida, mas não atendeu ao pedido.

Em 2006, o investimento efetivamente realizado pelo governo federal teve um salto de 33%; em 2007, de 26%; e em 2008 de 23,5%. O ritmo é decrescente, portanto, e, no primeiro trimestre de 2009, em relação a igual período de 2008, caiu para 20,1%.

DESCONTROLE

Samuel Pessôa, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, acha que "o descontrole nos gastos que estamos vendo agora, principalmente nos salários e no INSS, vai reduzir estruturalmente o superávit primário, e o próximo governo vai ter de enfrentar a tarefa de aumentá-lo novamente".

Pessôa é assessor do deputado Tasso Jereissati (PSDB-CE), e ajudou a redigir uma nota técnica na qual utilizou o relatório que Almeida fez sobre os gastos no primeiro trimestre.

Pessôa tem uma visão positiva da política fiscal do governo Lula até 2008: "Foi consistente, com seis anos de superávits primários elevados, e boa parte dos benefícios que estamos colhendo pela forma como a economia está se ajustando à crise vem da política fiscal do Lula".

Agora, porém, o economista do Ibre acha que está havendo uma reversão e que, mesmo com a retomada da economia - que ele prevê para 2010 -, o superávit primário não voltará ao nível anterior.

Pessôa acredita que a economia brasileira vai acelerar no final do próximo ano, que o Banco Central terá de elevar os juros e a conjunção de despesa financeira mais elevada como primário estruturalmente menor trará de novo preocupações quanto à capacidade do Brasil pagar a dívida pública, a partir de 2011.