Título: O mundo está em chamas, afirma Mantega
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2009, Economia, p. B8

Em discurso em comitê do FMI, ministro volta a citar ?necessidade de abrir portas para Cuba?

Nalu Fernandes, WASHINGTON

"O mundo está em chamas. A crise se tornou ainda mais prejudicial para o mundo em desenvolvimento desde o último encontro do Comitê de Desenvolvimento", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ontem. "Havia ainda outros grandes incêndios antes mesmo do derretimento financeiro em setembro de 2008 (colapso do Lehman Brothers), labaredas que eram igualmente devastadoras para seres humanos, mas muitos de nós estávamos acostumados a viver com elas", acrescentou. Em meio a críticas feitas à comunidade financeira, Mantega voltou a citar a necessidade de "abrir portas para Cuba".

O pronunciamento feito em nome da Constituency do Brasil - composta por Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago - foi apresentado no Comitê de Desenvolvimento, um fórum conjunto dos membros Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (Bird).

No discurso, Mantega também exortou os integrantes dos organismos multilaterais ao trabalho conjunto para restabelecer a confiança mundial. O ministro destacou a necessidade de "fortalecer a estrutura multilateral" para estabelecer confiança. O ministro lembra que os ministros do G-20 já se encontraram duas vezes desde setembro, depois do colapso do Lehman Brothers , e destaca que está claro que o "G-7 não pode apagar sozinho o incêndio existente, e é improvável que seja eficiente em crises futuras". "O G-20 pode fazer um trabalho melhor, uma vez que emerge como o mecanismo chave para coordenação política", afirma.

Nesta reunião do Comitê de Desenvolvimento, a agenda dos debates aborda implicações da crise mundial para os países em desenvolvimento, o papel das instituições financeiras internacionais e discussão sobre cota e representação nos organismos multilaterais.

De acordo com o ministro, a deterioração na perspectiva do desenvolvimento se reflete em indicadores como "níveis maiores de desemprego e aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza". Mantega, no entanto, cita que já havia a crise de desenvolvimento. "O número de seres humanos condenados a viver uma vida de fome e privações já era monstruoso quando nos encontramos no ano passado. A crise de alimentos e de combustíveis tinha piorado os problemas para muitos daqueles vivendo em países pobres", criticou.

O ministro brasileiro criticou ainda que "uma parte" do mundo que desfrutava de prosperidade parecia quase não estar abatida pelo fato de que "o resto dos vizinhos estavam em chamas". "As possibilidades para fazer dinheiro sem produzir nada pareciam eternas", alfinetou no comitê que reúne ministros dos 185 membros dos organismos multilaterais.

"O mundo financeiro desregulado desmoronou em setembro passado. As crises de desenvolvimento, clima e financeira parecem ter se tornado piores pela trajetória que a globalização estava seguindo", avaliou. "Este modelo de globalização exige ajustes", completou.