Título: Governo vai receber 54 mil doses extras de remédio
Autor: Leite, Fabiane; Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2009, Vida&, p. A20

Brasil mantém estoque estratégico de 9 milhões de doses; corrida às drogarias é um erro, diz especialista

Fabiane Leite, Tânia Monteiro, Valéria França e Lígia Formenti

O Ministério da Saúde deve receber nesta semana 54 mil doses de oseltamivir, medicamento da Roche cujo nome comercial é Tamiflu e que poderá ser usado em eventual ocorrência de gripe suína. A compra havia sido feita em janeiro, seguindo protocolo de rotina previsto no plano de contingência para pandemia de gripe. Assim que for entregue, deverá ser distribuído para os 51 hospitais referência no tratamento da doença.

Além do remédio pronto, o País tem estoque de 9 milhões de doses de Tamiflu em pó - estágio anterior ao usado no tratamento. Adquirido em 2006, está armazenado. O lacre só será aberto caso haja necessidade de uso em grande escala.

Assim como o Brasil, vários países compraram, entre 2005 e 2006, doses de Tamiflu para formar estoque estratégico. A preocupação era uma disseminação do H5N1, o vírus da gripe aviária. Testes feitos pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), de Atlanta (EUA), constataram que o influenza que circula agora, o H1N1, é sensível ao oseltamivir e ao zanamivir (Relenza, da Glaxo).

Em nota, a Roche disse que todo o estoque atual está comprometido com o Ministério da Saúde e será usado no caso de confirmação de doença. O antiviral é dificilmente achado nas farmácias. "Cerca de dez clientes quiseram comprar o Tamiflu, mas não há estoque em nenhuma unidade", disse ontem Wilson Mauro, gerente da drogaria Onofre, em São Paulo.

Especialistas enfatizam que não existe indicação de se utilizar medicamentos contra a gripe suína no Brasil porque não há evidência da circulação do vírus. "O governo tem estoque e pede para que as pessoas aguardem as instruções", disse o infectologista Vicente Amato Neto, professor aposentado da USP.

"Ninguém deve tomar a droga de forma indiscriminada", afirmou sábado ao Estado o gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde, Jarbas Barbosa. "Caso haja uso abusivo, o mundo corre o risco de ficar sem sua única arma."

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Há risco em comer carne suína?

Não. O consumo de produtos de origem suína não traz risco de a pessoa contrair a doença

Como ocorre a transmissão?

Como em qualquer gripe, ocorre pelo ar (tosse, espirro) ou por contato direto com secreções de pessoas infectadas

É recomendável ter antivirais em casa?

Não. O uso indiscriminado do medicamento pode criar vírus resistentes. Vários países, entre os quais o Brasil, têm estoques estratégicos do medicamento

Como saber se estou com a gripe suína?

Não há casos confirmados no Brasil. Pessoas com sintomas de gripe que viajaram para países onde há a doença, especialmente México e Estados Unidos, devem procurar o serviço de saúde da sua cidade

Qual exame detecta a doença?

Um teste rápido confirma se a pessoa foi infectada por um vírus da gripe. Para saber se o vírus pertence à nova cepa (a H1N1), são necessários exames que demoram alguns dias

Posso viajar para países com casos da doença?

Sim, desde que adote medidas de proteção, como uso de máscaras

Quais as recomendações para quem chega de países afetados?

Deve procurar um hospital quem tiver febre acima de 38°C, acompanhada de um desses sintomas: tosse, falta de ar, dores de cabeça, musculares e nas articulações