Título: Nome da doença deve ser gripe mexicana
Autor: Modé, Leandro; Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2009, Economia, p. B6

Quarto maior produtor e exportador mundial, o Brasil poderá sofrer os impactos da gripe suína no comércio mundial do produto por causa de desinformação, alerta o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. A entidade já conversou com o Ministério da Agricultura ontem, que entrou em contato com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para mudar o nome da doença, dissociando o suíno do problema. A seguir, os principais trechos da entrevista.

A gripe suína pode provocar estragos para a suinocultura nacional?

Acho que a desinformação pode provocar prejuízos, imaginando que a transmissão da doença possa ser por meio do consumo da carne. Isso cria barreiras ao comércio. No Brasil, não há motivos para isso, mas desinformação é desinformação.

Mas caíram ações dos frigoríficos.

Desinformação é assim mesmo. É uma desinformação porque não há casos de suínos doentes. O foco deveria estar na transmissão de humano para humano. Deveríamos estar com vigilância sanitária em cima dos aeroportos, dos portos. Acho que existe um equívoco de relacionar essa gripe com suínos e compará-la à gripe aviária. Neste caso, as aves adoeceram e a propagação era de ave para ave. As aves migratórias contaminaram as granjas. Havia aves doentes transmitindo o vírus para o homem.

Qual é o papel do Ministério da Agricultura neste caso?

Ele tem de explicar que é uma questão da gripe mexicana, como deveria se chamar a doença, que não tem a ver com os suínos.

A Abipecs vai tomar alguma medida nesse sentido?

Vamos tentar colocar o foco na gravidade do problema, que tem de existir vigilância sanitária nos aeroportos, entre os humanos. O Ministério da Saúde está falhando.

Os nossos suínos estão bem de saúde?

Até os do México estão bem. Os nossos nem se fala. A nossa suinocultura tem um nível de segurança muito bom. Se tivéssemos algum problema de saúde animal, o nível de biossegurança da suinocultura brasileira estaria preparado para enfrentá-lo.

Como está a suinocultura no Brasil?

Somos o quarto maior exportador e produtor mundial e vamos nos tornar primeiros rapidamente.

Qual a perspectiva de exportação para este ano?

A crise financeira global prejudicou a todos. As exportações caíram muito em novembro e dezembro. Mas já há recuperação. Esperamos abrir o mercado da China no mês que vem, quando o presidente Lula visitará o país. Vamos aproveitar a viagem dele para destravar os trâmites burocráticos e sanitários na China. A China é o maior consumidor e o maior produtor. Estamos prevendo exportar neste ano cerca de 530 mil toneladas, repetindo os volumes do ano passado.