Título: Gripe suína deixa investidor cauteloso
Autor: Modé, Leandro; Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2009, Economia, p. B6

Para analistas, eventual pandemia afetaria recuperação econômica

Leandro Modé, Jamil Chade e Claudia Violante

A ameaça de uma pandemia de gripe suína interrompeu o otimismo das últimas semanas no mercado financeiro mundial. Não houve pânico, mas cautela. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), por exemplo, recuou 2,04%. Nos Estados Unidos, o Índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, perdeu 0,64%. A bolsa eletrônica Nasdaq caiu 0,88%.

"Depois de um movimento de recuperação bem razoável (nas últimas semanas), o mercado fica mais sensível", observou a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif. "Hoje (ontem) não aconteceu nada que justificasse novas altas e a história da gripe não é uma notícia boa." Embora tenha dúvidas sobre o real impacto da gripe nos mercados, Zeina explicou que, no limite, uma piora da situação comprometeria o fluxo de pessoas e, por tabela, os negócios.

Apesar de a Bovespa ter caído muito mais do que as bolsas americanas, a explicação dos especialistas foi de que o noticiário serviu de justificativa para uma realização de lucros. "Sexta-feira, alguns bancos pequenos quebraram nos Estados Unidos e isso ficou rondando no fim de semana. Hoje (ontem), os investidores juntaram todo esse noticiário e embolsaram parte dos ganhos acumulados (nas últimas semanas)", comentou um experiente profissional de renda variável de uma corretora em São Paulo.

Um levantamento do Banco Mundial feito no ano passado estimou que uma pandemia de gripe poderia provocar uma queda de até 5% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em uma economia já combalida pela crise financeira, isso teria potencial para transformar a recessão em uma depressão.

A gripe chega exatamente quando governos e economistas de todo o mundo começavam a respirar mais aliviados, diante de números que apontavam que a crise poderia ter atingido seu ponto mais baixo.

Na Europa, o Índice FTSE, da Bolsa de Londres, fechou em alta de 0,3%, depois de sofrer uma queda de mais de 1,5% durante o dia. Em Frankfurt, a alta foi de 0,4%. A Bolsa de Paris não conseguiu se recuperar da queda do início do dia e fechou em retração de 0,4%. Em Madri, a bolsa caiu 1,3%.

Na Ásia, Pequim, Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Índia também fecharam em baixa. "Desde a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa), sabemos que esses surtos podem gerar problemas sérios para setores da economia, principalmente o de viagens e turismo", afirmou o Rabobank em um relatório.

Segundo o banco, a confiança dos mercados pode ser afetada. Outro relatório, da Tera Stock Brokers, apontou que a gripe pode afetar a capacidade de a economia mundial de sair da recessão. "A gripe suína tem o potencial de danificar as perspectivas de recuperação da recessão", disse.

Os mercados demonstraram ontem que temem que a atual gripe seja mais potente que a gripe aviária e equivalente à Sars que, em 2003, matou 774 pessoas e infectou mais de 8 mil.

Dados do Banco Mundial apontam que a Ásia perdeu 2% do PIB naquele ano. Se o problema tivesse se espalhado pelo mundo, a conta chegaria a US$ 800 bilhões. Só o setor de aves perdeu US$ 10 bilhões com a gripe aviária em 2005.