Título: OMS vê risco de pandemia de gripe
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2009, Vida&, p. A17

Perspectiva é de alta do nível de gravidade para 5, em escala até 6, o que acelera esforço para desenvolver vacina A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou ontem que já analisa elevar o nível de alerta sobre a gripe suína de 4 para 5, o penúltimo de uma escala de 6, o que indicaria estágio de pandemia - a disseminação da doença em pelo menos dois países. Preocupada, a entidade apelou para que os países se preparem e enfatizou ainda que, se isso ocorrer, as populações mais pobres serão as mais afetadas, com efeitos desastrosos. "Ainda não e algo inevitável. Mas estamos considerando essa possibilidade de forma muito séria. Chegou o momento de os países se prepararem para uma pandemia, especialmente aqueles que ainda não contam com planos (de contingência)", disse Keiji Fukuda, vice-diretor da OMS.

Enquanto isso, cientistas tentam descobrir a origem do vírus causador da doença e a OMS busca parceiros, inclusive no Brasil, para a pesquisa de uma vacina. Até ontem, a doença somava 114 casos confirmados nos EUA, México, Canadá, Espanha, Nova Zelândia, Reino Unido e Israel, e 7 óbitos confirmados - todos estes, no México. No entanto, outros cerca de 2.000 casos e 100 mortes ainda eram investigados.

O vice-diretor diz que existe a possibilidade de que a pandemia seja apenas leve, mas prefere ser cauteloso. "Uma das lições da história é que uma pandemia pode passar de suave para severa e ainda é cedo para dizer aonde esta vai." Fukuda enfatizou que a gripe espanhola de 1918 começou de maneira leve e matou 40 milhões.

"O tipo de vírus apresenta um potencial grande de transmissão, mas com taxa de mortalidade relativamente baixa", disse o gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o brasileiro Jarbas Barbosa. Ele enfatizou que mortes e casos graves ainda estão restritos ao México, onde a OMS considera que a estratégia de conter o vírus já não dá resultados. "O foco será mitigar os efeitos", informou a organização. No Brasil, não há evidência da circulação do vírus e 20 pessoas são acompanhados em 8 Estados por terem vindo de áreas com casos da doença (mais informações nesta página).

Segundo a OMS, para a mudança do nível 4 para o 5 basta a confirmação de que a transmissão do vírus H1N1 está ocorrendo de forma sustentável em pelo menos dois países. Isto é, bastaria haver alguma prova de que a doença não estaria se manifestando só em indivíduos que teriam adquirido o vírus no México. Fukuda aponta que alguns dos estudantes contaminados em Nova York não viajaram para o México. O presidente dos EUA, Barack Obama, já pediu ontem que o Congresso libere US$ 1,5 bilhão para combate à doença.

Diplomatas que acompanham o cotidiano da OMS revelaram ao Estado que a declaração de um nível 5 significaria que governos teriam de tomar uma série de duras medidas de controle, o que seria difícil de implementar da noite para o dia. A OMS estaria dando um prazo, portanto, para garantir que os governos se preparem. O temor é de que, em caso de uma pandemia, países africanos sejam os mais vulneráveis. A OMS enviará antivirais, equipamentos médicos e ajuda para os governos africanos.

Apesar do tom de grande preocupação, a OMS continua a não recomendar restrições para viagens, pede apenas para que pessoas doentes não viajem. Segundo a entidade, questões econômicas foram pesadas na decisão.

ORIGEM E VACINA

Ainda ontem a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) anunciou que enviou uma equipe de técnicos para fazendas no México, para buscar pistas sobre a origem do vírus. Também informou que quatro laboratórios já iniciaram pesquisas para tentar encontrar uma vacina que possa ser usada contra a gripe suína, em um prazo de seis meses. "Nossa meta é ter uma vacina o mais rápido possível", disse Fukuda.

Segundo o veterinário-chefe da FAO, Joseph Domenech, a entidade recebeu indicações de que as primeiras pessoas contaminadas foram registradas perto de fazendas. Mas a FAO deixou claro que não há sinais da contaminação de animais.

A produção de uma vacina terá ser acelerada se a OMS elevar o nível de alerta mundial de 4 para 5. Anteontem, um representante da organização procurou a Fundação Butantã, em São Paulo, para saber se a instituição poderia auxiliar nos estudos sobre um imunizante. A resposta de Isaias Raw, presidente do órgão, vinculado ao governo paulista, foi positiva. Ele prevê, porém, que, se necessária, uma vacina só ficaria pronta no fim do ano, quando a fábrica de vacinas do órgão já estará com plena capacidade de produção.

Atualmente, o instituto testa uma vacina contra a gripe aviária em humanos em um projeto piloto e poderia utilizar essa estrutura também para a nova vacina, se necessário, diz Raw. "Mas acredito que o número de casos da doença não será tão alto assim e talvez isso não seja preciso", diz o presidente, que enfatiza que a produção dependeria do envio de amostras do vírus pela OMS.

Diplomatas já preveem uma grande tensão entre os países durante o desenvolvimento de uma eventual nova vacina. As discussões vinham ocorrendo no processo de produção da vacina contra a gripe aviária. As diplomacias do Brasil, Malásia e Indonésia se queixavam de que a OMS exige que as amostras de vírus da gripe para a produção de vacinas sejam fornecidas gratuitamente, mas elas não têm nenhum benefício nas compras das vacinas. A Assembleia Mundial da Saúde discutirá o assunto. Teoricamente, um acordo será proposto . Mas, diante da epidemia de gripe suína, é difícil arriscar o resultado.

JAMIL CHADE, FABIANE LEITE , LÍGIA FORMENTI e PATRÍCIA CAMPOS MELLO

PREOCUPAÇÕES

Keiji Fukuda vice-diretor da OMS

"Ainda não e algo inevitável (uma pandemia). Mas estamos considerando essa possibilidade de forma muito séria. Chegou o momento de os países se prepararem para uma pandemia, especialmente aqueles que ainda não contam com planos (de contingência)"

" Uma pandemia pode passar de suave para severa e ainda é cedo para dizer aonde esta vai. Nossa meta é ter uma vacina o mais rápido possível"

Jarbas Barbosa Gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas)

"O tipo de vírus apresenta um potencial grande de transmissão, mas com taxa de mortalidade relativamente baixa"