Título: BC faz corte menor, mas deve estender período de redução
Autor: Abreu, Beatriz; Monteiro,
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2009, Economia, p. B3

Comunicado sugere que o BC voltará a cortar a Selic na próxima reunião do Copom, em junho

Beatriz Abreu, Tânia Monteiro e Marcia de Chiara e Nalu Fernandes

A decisão do Banco Central (BC) de cortar em um ponto porcentual a Selic - e não 1,5 ponto como ocorreu na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom)- está baseada numa nova estratégia.,

O BC quer reduzir o ritmo de queda da Selic para prolongar o processo de redução dos juros. Ao invés de fazer um corte maior rapidamente, a redução seria estendida pelos próximos meses.

Trata-se de um jogo combinado com outros setores do governo. A ideia é dar tempo para que se possa mexer nas regras de remuneração da caderneta de poupança.

Se a remuneração da caderneta ficasse mais atraente que a dos títulos públicos e de fundos de investimentos poderia haver uma grande migração de recursos. As novas regras para a correção das cadernetas já estão praticamente definidas.

Ontem pela manhã o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reunião foi no Palácio do Alvorada.

Essas reuniões de Meirelles e Lula antes dos encontros do Copom viraram rotina. O presidente do BC sempre apresenta a Lula as avaliações técnicas do BC que balizam o Copom.

ECONOMISTAS

Para economistas, o sinal dado pelo BC é que o ciclo de corte da Selic poderá ser mais longo que o inicialmente previsto. O comunicado do Copom "surpreendeu", afirmou de Ítalo Lombardi, economista da consultoria Roubini Global Economics (RGE) para América Latina.

Ele observou que o comunicado emitido pelo Copom do BC deixa "a porta um pouco mais aberta" para um processo mais longo do corte de juros do que o mercado esperava.

Essa também é a avaliação do economista-chefe do Morgan Stanley Brasil, Marcelo Carvalho. "Devagar se vai ao longe", essa é a mensagem que o BC quis passar à sociedade ao reduzir o tamanho do corte da taxa de juros, de 1,50 ponto porcentual para 1,00 ponto.

Segundo Carvalho, cortando a taxa em um ritmo menor agora, o Copom poderá levar o processo por mais tempo, de forma que a Selic possa chegar ao fim do ciclo em um patamar mais baixo do que se tivesse feito uma redução maior agora, de 1,5 ponto porcentual.

REPERCUSSÃO

A decisão do BC provocou polêmica. Alguns economistas questionaram a decisão com o argumento que a economia está paralisada e não há pressão inflacionária. Outros dizem que a situação já começou a melhorar e é preciso ter cautela.

Para o presidente do Conselho de Administração do Instituto dos Executivos Financeiros (Ibef), Walter Machado de Barros, a decisão foi correta. "A crise global ainda pode gerar consequências negativas para a economia."

Para Barros, já há sinais de recuperação da economia brasileira. "Reduzir 1,5 ponto porcentual seria um exagero, porque esse é um momento de observação da economia", avaliou.

""BC AMARELOU""

Já o sócio da RC Consultores, Fábio Silveira, disse que "o Banco Central amarelou". Ele lembra que o BC, durante muito tempo, sinalizou que poderia cortar em 1,5 ponto porcentual a Selic. Agora, diante dessa tímida recuperação da economia, voltou atrás.

O economista da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, considerou a decisão do BC excessivamente conservadora. "É só olhar os dados da economia real para ver que a situação está longe de ter um excesso de demanda." Ele diz que o cenário é preocupante, porque o desemprego está aumentando. Solimeo lamenta o fato de a decisão não ter tido um viés. Isso significa que a taxa não poderá ser alterada antes da próxima reunião, em 45 dias. "É muito tempo", observa.

Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC, também criticou a decisão do Copom. "A economia deve ter crescimento zero ou até negativo, o dólar está em queda e a taxa de juro está baixa no mundo todo. Com tudo isso, e o BC perde a oportunidade de cortar o juro agora. Então vai cortar quando?", perguntou Gomes.

REPERCUSSÃO

Paulo Godoy Presidente da Abimaq

"A retração do PIB e a desaceleração da inflação justificam a medida tomada pelos técnicos do comitê, que mostraram sensibilidade ao decidir por unanimidade"

Antonio Monteiro Presidente da CNI

"O atual ciclo recessivo da economia exige um corte mais substancial da Selic, mesmo porque a taxa de inflação no acumulado de 12 meses se encontra em trajetória cadente"

Paulo Skaf Presidente da Fiesp

"Em um cenário de incerteza como o atual, em que decisões importantes precisam ser tomadas rapidamente, é um erro manter encontros do Copom tão distantes . Erro maior foi diminuir o ritmo da queda da Selic"

Abram Szajman Presidente da Fecomércio

"A taxa média de juros no mundo está entre 4% e 5% e nos EUA, no Japão e na Europa está abaixo de 2%. Comemorar que a Selic diminuiu de 11,25% para 10,25% parece ser resignação demais"