Título: PMDB quer ministério de Múcio e retorno de afilhados à Infraero
Autor: Nogueira, Rui; Rabello, João Bosco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2009, Nacional, p. A4

Busca de apoio à pré-candidatura de Dilma abre espaço para que partido se lance em nova barganha por cargos

Rui Nogueira, João Bosco Rabello e Marcelo de Moraes, BRASÍLIA

Maior legenda da base governista, o PMDB deflagrou na semana passada um novo e voraz processo de barganha política depois que o Planalto reafirmou que o partido é "o aliado fundamental do PT na disputa de 2010". A corte aos peemedebistas se intensificou com a fragilização da pré-candidatura à Presidência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que vem se submetendo a quimioterapia para tratar um câncer no sistema linfático.

Mal nas presidências do Senado e da Câmara, com José Sarney (AP) e Michel Temer (SP) tendo de pilotar escândalos patrocinados por deputados e senadores - uso de passagens por terceiros, verbas indenizatórias e pagamento de horas extras, por exemplo -, o PMDB passou a pressionar o Planalto em três frentes para se manter na negociação do apoio a Dilma: quer o lugar do ministro José Múcio (Relações Institucionais), mais cargos para aliados e a revisão de exonerações na estatal Infraero que atingiram afilhados peemedebistas.

A bateria de reivindicações foi tão bem orquestrada que, na quarta-feira passada, a própria ministra Dilma tomou café da manhã com o senador Gim Argello (PTB-DF), um parlamentar que virou aliado incondicional do grupo Sarney-Renan Calheiros (PMDB-AL), que hoje dá as cartas no Senado. Na quinta-feira foi a vez do próprio presidente Lula chamar Sarney e Temer para um jantar no Alvorada. Para esta semana está previsto um jantar de todos os senadores peemedebistas com Lula. Na próxima semana, a reunião do Conselho Político.

No encontro entre Dilma e Argello, ocorrido na casa da ministra, os dois conversaram sobre a doença e o tratamento, mas os assuntos de fundo levados pelo parlamentar foram outros: um rosário de queixas contra o ministro Múcio, ataques ao brigadeiro Cleonilson Nicácio, que está profissionalizando as diretorias da Infraero, ameaça de abertura de uma CPI para investigar o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), acusações contra o ministro Tarso Genro (Justiça) e até um pedido de cargos para o senador Almeida Lima (PMDB-SE), presidente da Comissão de Orçamento. O senador é apontado como um "aliado fundamental", que precisa "ter mais que um carguinho na direção dos Correios", disse ao Estado um senador peemedebista.

INFRAERO

Sobre a Infraero, as lideranças do PMDB têm dito que o governo precisa optar entre defenestrar "os afilhados dos aliados que rendem votos" e os técnicos do brigadeiro Nicácio. O problema é que o brigadeiro aprovou sem alarde, no dia 17 de abril, um estatuto que blinda a empresa contra as indicações partidárias e gerou uma lista de 95 "empregos políticos" a implodir.

Já foram demitidos nomes como os do casal Oscar Jucá e Taciana Canavarro, irmão e cunhada do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Ambos estavam na folha da Superintendência de Pernambuco. Saíram também Monica Azambuja, ex-mulher do líder do PMDB, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN); Ingrid Luck, "afilhada" de Múcio; Eurico Loyo, que era da cota política do falecido deputado Carlos Wilson, ex-presidente da Infraero (PT-PE); Marcos Lomanto, irmão de Leur Lomanto, ex-diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil); Leonardo Soares, indicado pelo ex-presidente do TCU Adylson Motta; e Edgar Brandão, um "apadrinhado" do deputado e ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP).

As exonerações continuam e os partidos da base aliada fazem verdadeiras romarias ao gabinete do ministro das Relações Institucionais com pedidos para que o novo estatuto da Infraero seja rasgado. Pelas novas regras, quatro das cinco diretorias da empresa têm de ser preenchidas por funcionários técnicos de carreira.

No caso de Tarso Genro, o PMDB queixa-se de que o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) passou a ser alvo de investigações da Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça, desde que articulou uma aliança para sustentar a candidatura do peemedebista José Fogaça ao governo do Estado. Tarso é pré-candidato ao governo gaúcho. A assessoria de imprensa da PF diz que o órgão "não faz investigações políticas em nenhum lugar do País".