Título: Para México, surto de gripe suína alcançou pico e agora deve recuar
Autor: Sant?Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2009, Vida&, p. A12
Mas direção da Organização Mundial da Saúde rejeita comemoração e afirma que é tolice fazer projeções agora
Lourival Sant?Anna, CIDADE DO MÉXICO; Jamil Chade, GENEBRA
O ministro da Saúde do México, José Ángel Córdova, anunciou ontem que a epidemia de gripe suína entrou em declínio no país. O número de contágios confirmados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aumentou de 397 para 506, mas isso não se deve necessariamente ao surgimento de casos novos e sim ao avanço das análises laboratoriais, parte delas realizada nos Estados Unidos e no Canadá. O número de mortes comprovadas pela doença subiu de 16 para 19. "A evolução da epidemia encontra-se agora em queda", disse Córdova, em entrevista coletiva, ontem de manhã. "O pico nacional ocorreu entre os dias 23 e 28."
Córdova contestou declarações da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo as quais o governo mexicano ignorou alertas da entidade sobre um surto epidemiológico. O ministro afirmou ter comunicado imediatamente os primeiros casos, surgidos no povoado de Perote, no Estado de Vera Cruz, à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS nas Américas.
O diretor para Alerta e Resposta Global da OMS, Michael Ryan, afirmara no sábado, em Genebra, que a organização advertiu o governo mexicano para o surgimento de "casos inusitados de pneumonia" no dia 11 de abril. Segundo ele, o governo respondeu que o caso havia sido encerrado porque ninguém tinha morrido e os pacientes estavam se recuperando. Só no dia 23 o México reconheceu a epidemia.
A campanha para as eleições para a Câmara dos Deputados e o Senado, marcadas para o dia 5 de julho, começou ontem oficialmente, de maneira atípica. Estão proibidos comícios e aglomerações. No caso de eventos em locais fechados, cada cadeira tem de estar a dois metros uma da outra. Todos devem usar máscaras cirúrgicas. Microfones devem ser cobertos com esponjas descartáveis, substituídas a cada orador. O uso de gravatas é proibido, por serem consideradas um reservatório de vírus.
NADA PARA COMEMORAR
Sobre a declaração do governo mexicano de que os casos estariam chegando a um pico, a OMS não deixou espaço para comemoração. "Essa pode ter sido uma primeira onda e é normal que no verão do Hemisfério Norte o surto perca força. O teste real será no outono. Seria tolice fazer projeções agora", afirmou Gregory Hartl, porta-voz da entidade. "Estamos ainda nos primeiros 200 metros de uma maratona", afirmou Keiji Fukuda, vice-diretor da OMS.
Jarbas Barbosa, gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Opas, concorda em que a doença começa a dar sinais de estabilidade no México - mas ainda em um patamar alto. "O número de novos casos gira em torno de 30", conta. Ele também acha cedo falar em regressão. "É preciso muita cautela. O ideal é esperar, no mínimo, 10 dias para saber qual comportamento a doença terá naquele país."
Fukuda confirma que há indícios de que o vírus H1N1 pode ter apenas a mesma força que o vírus de uma gripe normal. Ainda assim, mantém a cautela. "A grande preocupação é que não sabemos o que vai ocorrer. Tememos que todo mundo diga, prematuramente, que essa foi uma gripe suave e que podemos esquecer disso e prestar atenção em outras coisas", ponderou. "Uma pandemia não funciona de forma regular. Ela tem picos e vales, podendo se mostrar mais forte ou suave dependendo da região. Em uma pandemia, não estamos falando em chegar a um pico e depois desaparecer", insistiu Fukuda.
COLABOROU LÍGIA FORMENTI