Título: Importação desaba e mascara saldo
Autor: Veríssimo,Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2009, Economia, p. B4

Importando menos máquinas e matérias-primas, por causa da crise econômica, o superávit chegou a US$ 3,71 bi

Renata Veríssimo

A balança comercial brasileira apresentou em abril um superávit de US$ 3,71 bilhões, o maior resultado mensal desde maio de 2008 e 113,7% maior que em abril de 2008. O problema é que a melhora do saldo é resultado de uma deterioração das exportações e, sobretudo, das importações, provocada pela retração dos investimentos das empresas neste momento de crise mundial.

Os dados da balança mostram que apenas as exportações de produtos básicos, que não têm valor agregado, estão em alta este ano. Além disso, na outra ponta, as importações de bens de capital e matéria-primas estão em queda.

As vendas externas em abril somaram US$ 12,32 bilhões, com média diária de US$ 616,1 milhões. Foi o melhor desempenho das exportações este ano, apesar de ainda estarem 8% menores que a média diária de abril de 2008. As importações totalizaram US$ 8,61 bilhões, com média diária de US$ 430,5 milhões. A retração nas compras externas foi de 26,6% em relação à média diária de abril do ano passado.

No acumulado do ano, as exportações somaram US$ 43,5 bilhões, com queda de 16,5%, pela média diária, em relação ao mesmo período de 2008. As importações totalizaram US$ 12,32 bilhões, com retração de 22,8%. O superávit comercial no primeiro quadrimestre foi de US$ 6,72 bilhões, 49,4% maior que no mesmo período do ano passado.

Segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas de produtos básicos apresentaram valor recorde para os primeiros quatro meses (US$ 17,24 bilhões) e cresceram 8,7% ante o mesmo período de 2008. Já os produtos manufaturados e semimanufaturados, de alto valor agregado, tiveram queda nas vendas de 28,7% e de 21,5%, respectivamente.

Com isso, a participação dos produtos básicos na pauta de exportação passou de 30,4% no primeiro quadrimestre de 2008 para 39,6% no mesmo período deste ano. Pela série histórica anual do ministério, é o mesmo nível do início da década de 80. A participação dos produtos industrializados caiu de 66,8% para 58,2% de janeiro a abril deste ano.

O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, avaliou que há uma tendência de recuperação das exportações. Segundo ele, o crescimento de 14,8% nas vendas externas em abril em relação a março é o maior nesse período de comparação desde 1998. Também houve melhora no acumulado do ano. No primeiro trimestre, a queda nas vendas externas era de 19,4%. No fechamento do quadrimestre, caiu a 16,5%. Segundo Barral, a comparação com abril de 2008 apresenta distorção. Naquele mês, houve registro menor das exportações por causa de greve da Receita Federal.

Do lado das importações, houve queda em todas as categorias. No acumulado do primeiro quadrimestre, as importações de bens de capital cederam 6,4%. Barral destacou, no entanto, que a participação dos bens de capital na pauta subiu de 21,1% no primeiro quadrimestre de 2008 para 25,6% no mesmo período de 2009.

As compras internacionais de matérias-primas tiveram queda de 28,2% no período e a participação caiu de 49,3% para 45,9%. As importações de bens de consumo diminuíram 1,9% e de combustíveis e lubrificantes, 44,1%. Segundo Barral, a queda nas importações é reflexo da valorização do real e da queda de preços internacionais, como o do petróleo.