Título: País acelera plano de contingência para lidar com casos de gripe suína
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2009, Vida&, p. A16

Diante da declaração da Organização Mundial da Saúde sobre a iminência de uma pandemia de gripe suína - gripe A (H1N1), como rebatizou ontem a entidade -, o Sistema Único de Saúde brasileiro acelerou a implantação do plano de contingência da doença, que ainda não se manifestou no País. A organização de leitos de isolamento em unidades de referência para eventuais doentes é uma das prioridades. O Brasil tem 4 casos suspeitos da gripe e 42 em investigação e anteontem o governo federal decidiu monitorar todos os voos internacionais como medida preventiva.

A questão dos leitos de isolamento já era uma preocupação quando o Brasil concluiu, em 2006, conforme recomendação da OMS, seu plano de contingência de uma pandemia de gripe, onde informava que o SUS detinha 40,3% dos leitos de isolamento do País (3.325), além de uma concentração das vagas no Sudeste, em razão de a região tradicionalmente ter maior oferta de serviços e tecnologias. Também destacava que, no que se refere à infraestrutura, de 47 hospitais apresentados como referência pelos Estados, apenas 10 apresentavam unidade de isolamento respiratório adequada, e pedia que em caso de pandemia os problemas fossem levados em conta pelas secretarias ao indicar unidades de atendimento.

Segundo o Ministério da Saúde, o número de unidades de referência hoje chega a 52 - pelo menos uma para cada Estado. A pasta não comentou a situação atual das áreas de isolamento. Estados consultados informaram que já estão tomando providências para ter a infraestrutura requisitada e que os leitos estão adequados.

Em São Paulo, a Secretaria Estadual da Saúde anunciou nesta semana a oferta de 160 leitos e diz que poderá aumentá-los, se necessário. No Rio, o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, disse estar "esvaziando" leitos de UTI da emergência de infectologia do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado (Iaserj), no centro, com transferências para outros hospitais. Para isso, ele requisitou oficialmente dois leitos de UTI em cada unidade das redes municipal, estadual e federal no Rio. Até ontem, havia 10 leitos no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec),vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outros dez do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio.

Côrtes disse ainda que, se preciso, cirurgias eletivas "obviamente serão retardadas". Além do Ipec e do Iaserj, pelo menos 20 leitos do Hospital Universitário Pedro Ernesto serão preparados para "ficar de stand by (de prontidão)". "A primeira orientação é de tranquilidade. Todas as medidas possíveis estão sendo tomadas"

Na Bahia, que tinha quatro leitos, o secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, informou que uma enfermaria do hospital de referência Otávio Mangabeira foi esvaziada para receber eventuais doentes. Outros leitos estão sendo preparados em mais dois hospitais. "Em breve teremos 24 vagas."

O Estado do Paraná diz já contar com 28 leitos e está organizando uma rede de retaguarda que estabelece no mínimo um hospital de referência para cada uma das 22 Regionais de Saúde do Estado.

O Pará informou ter cinco leitos disponíveis e que deveria ontem mesmo iniciar conversas com a rede de planos de saúde - o plano de contingência prevê requisição de vagas privadas.

O Amazonas informou já ter 16 leitos e que está trabalhando para ampliá-los. "O maior desafio neste nível de alerta é que ainda não temos ideia da demanda e precisamos adaptar a uma rede que já tem muita demanda", afirma Evandro Melo, diretor presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado. Segundo ele, o órgão já fez consultoria jurídica sobre medidas contra pacientes que não queiram se tratar.

Ontem um rapaz de 26 anos, que chegou da Nova Zelândia com suspeita de gripe suína e estava em área de isolamento do Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (HUSE), em Aracaju, fugiu por volta das 9 horas, antes da alta. O jovem foi agressivo e demonstrou resistência à equipe de profissionais da saúde que tentou evitar sua saída. A irmã do jovem, que também estava internada na unidade por ter apresentado sintomas da influenza, recebeu alta três horas após o irmão ter fugido do local. Segundo testemunhas, o rapaz pegou um táxi e foi para casa.

"Como o paciente deixou de apresentar os sintomas e o caso dele é de monitoramento, não será necessário solicitar apoio judicial. Mesmo assim, a evolução da possível doença será acompanhada em domicílio"", explicou o gerente de Doenças e Agravos Transmissíveis da Secretária de Estado da Saúde, Marco Aurélio Souza. O secretário de Estado da Saúde, Rogério Carvalho, enfatizou que "não há motivo para pânico".

DIAGNÓSTICO

O Brasil receberá nos próximos dias kits prontos para o diagnóstico de gripe suína, enviados pela Organização Pan-Americana de Saúde. Ontem, o ministro da Saúde, José Temporão, havia afirmado que testes feitos no Brasil, estariam prontos em até 10 dias. Com a chegada dos kits prontos, a confirmação ou descarte dos casos será acelerada.

FABIANE LEITE, FELIPE WERNECK, LÍGIA FORMENTI, ANTONIO CARLOS GARCIA e TALITA FIGUEIREDO

FRASES

Sérgio Côrtes Sec. de Saúde do Rio

"A primeira orientação é de tranquilidade. Todas as medidas possíveis estão sendo tomadas

Evandro Melo Dir. da Fund. de Vigilância em Saúde do Amazonas

"O maior desafio neste nível de alerta é que ainda não temos ideia da demanda e precisamos adaptar a uma rede que já tem muita demanda"

SAIBA MAIS

Conselhos se o vírus chegar

Como posso me proteger da gripe suína?

Evite contato com pessoas que parecem doentes, com febre ou tosse

Lave suas mãos com água e sabão frequentemente

Durma bem, alimente-se adequadamente e pratique exercícios físicos para manter a boa disposição das suas defesas naturais

O que devo fazer se suspeito que estou com a doença?

Se você esteve em um dos países em que o vírus está circulando ou teve contato com casos suspeitos e tem febre alta repentina (acima de 38°C), tosse e um ou mais dos seguintes sintomas: dores de cabeça, nas articulações e dificuldades respiratórias...

Permaneça em casa e não vá ao trabalho, escola ou eventos

Descanse e beba muito líquido

Cubra sua boa com lenços descartáveis quando tossir ou espirrar e use-os para assoar o nariz. Descarte-os de forma adequada depois do uso

Lave as mãos com água e sabão frequentemente, especialmente depois de tossir ou assoar o nariz

Informe família e amigos sobre a doença e evite contato com as pessoas

Entre em contato com um médico ou serviço de saúde antes de procurar os centros de referência da gripe suína no Brasil. Explique porque você suspeita que contraiu a gripe suína (por exemplo, diga se viajou recentemente para países onde já foram registrados casos)

Se não foi possível contactar antes um serviço de saúde, comunique a suspeita de infecção tão logo chegue

Cubra seu nariz e boca durante o percurso para o centro de referência

Como devo cuidar de uma pessoa doente em casa?

Separe-a dos demais moradores. Eles devem permanecer a, no mínimo, um metro de distância do doente

Cubra a boca e o nariz enquanto estiver cuidando da pessoa. Podem ser usadas máscaras cirúrgicas comerciais ou confeccionadas em casa, desde que descartadas ou limpas de forma adequada depois do uso

Lave suas mãos com água ou sabão depois de cada contato com o doente

Melhore a ventilação onde a pessoa está. Abra portas e janelas para tirar proveito do fluxo de ar

Mantenha o ambiente limpo com produtos de limpeza e desinfetantes