Título: Intervenção indica mudança de expectativa para o câmbio, diz analista
Autor: Graner, Fabio; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2009, Economia, p. B3
A volta do Banco Central (BC) como comprador de dólares teve ao menos duas interpretações no mercado financeiro. Para alguns analistas, a autoridade monetária tenta impedir uma valorização muito forte do real para proteger as exportações, que já sofrem com a recessão global. Para outros, o BC busca apenas evitar um movimento abrupto da taxa de câmbio, como já fez quando a tendência para a moeda americana era de alta.
"O BC provavelmente identificou um fluxo de dólares para o Brasil que poderia inundar o mercado no curto prazo. Por isso, agiu para suavizá-lo", disse o economista-chefe da GAP Asset Management, Alexandre Maia. Ele explicou que grandes oscilações no mercado de câmbio são ruins para quem depende da moeda americana no dia a dia, como importadores e exportadores. "Por isso, o BC age para conter a volatilidade."
Nas últimas semanas, estrangeiros voltaram com apetite ao Brasil, sobretudo para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que acumula valorização de quase 35% no ano.
Maia também notou que o superávit comercial (US$ 6,7 bilhões no acumulado até o fim de abril) supera as projeções dos especialistas. Além disso, lembrou que o Investimento Estrangeiro Direito (IED) não caiu como muitos esperavam.
"A intervenção de hoje (ontem) do BC sinaliza uma reversão das expectativas em relação à taxa de câmbio no Brasil, após um longo e tenebroso inverno", disse Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria e um dos maiores especialistas do País nesse mercado.
Blanche é provavelmente o analista mais "otimista" com o desempenho do real em 2009. Desde o fim do ano passado, mantém a projeção de uma taxa de câmbio de R$ 2 por dólar em dezembro. "É uma questão de fundamentos", disse. Além dos fatores citados por Maia, ele lembra que o País tem mais de US$ 200 bilhões em reservas.
O sócio da Tendências observou que dados do mercado de câmbio (futuro e à vista) nas últimas semanas apontavam para uma valorização expressiva do real - apesar de as estatísticas do BC ainda mostrarem um fluxo cambial negativo. "As posições ?vendidas? dos bancos em dólar vêm caindo, o que indica menor demanda por hedge (proteção)", exemplificou.
Para Blanche, "a intervenção do BC mais os contratos de câmbio em aberto no mercado futuro" indicam uma reversão de expectativas em relação ao real. "O que não significa que não veremos mais volatilidade."
O operador de câmbio José Carlos Amado, da Renascença Corretora, afirmou que o BC ajudou a elevar a liquidez do mercado, demonstrou sensibilidade a uma prevista reclamação dos exportadores e ainda pode ter dado um sinal de que o próprio BC estaria antevendo uma elevação significativa do fluxo cambial por causa dos discretos sinais de melhora das economias dos EUA, da China e também do Brasil.
COLABOROU SILVANA ROCHA