Título: Enxurrada de dólares preocupa o governo
Autor: Graner, Fabio; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2009, Economia, p. B3
Governo se divide, porém, sobre como enfrentar o problema
Fabio Graner e Renata Veríssimo, BRASÍLIA
A intervenção do Banco Central ontem no mercado de câmbio foi analisada por setores da equipe econômica como um indicativo de que é procedente a tese de que o ritmo menor na queda das taxas de juros pode provocar uma desvalorização mais acentuada do dólar em relação ao real.
Esse avaliação não corresponde à interpretação do Banco Central. Para a diretoria do BC, a valorização do real não pode ser atribuída, apenas, ao nível da taxa de juros, mas principalmente há outros fatores.
Segundo o Banco Central, as razões principais para a maior entrada de dólares no País e a pressão sobre o mercado de câmbio são a menor aversão ao risco no mercado internacional e a alta recente dos preços das commodities exportadas pelo Brasil.
DISPUTA
As visões divergentes entre integrantes da equipe econômica e do Banco Central sobre a questão foram acentuadas depois da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), no dia 11 de março.
Na ocasião, o Copom decidiu reduzir o ritmo da queda dos juros de 1,5 ponto percentual, cortados na reunião anterior, para 1 ponto percentual.
Integrantes da equipe econômica ficaram insatisfeitos e, nos bastidores, manifestaram preocupação com uma valorização do real que seria provocada pelo grande volume de operações do tipo "carry trade".
Nessas operações, os investidores captam recursos a juros baixos em mercados desenvolvidos e aplicam nos títulos brasileiros, que estão entre os de melhor rentabilidade no mundo.
Esse movimento seria favorecido pela diminuição da aversão ao risco por parte dos investidores internacionais e pela percepção de que o Brasil está em uma situação econômica melhor que a maioria dos países emergentes.
Segundo essa fonte da equipe econômica, a realização de swaps reversos , operação que equivale a uma compra de dólares no mercado futuro, não será suficiente para conter esse processo.
Já a visão do BC é de que a maior entrada de dólares no País não está relacionada à taxa de juros.