Título: Quinta coluna
Autor: Kramer, Dora
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2009, Nacional, p. A6
Tido e havido como parceiro preferencial do presidente Luiz Inácio da Silva não apenas no governo, mas também no processo de sucessão presidencial, o PMDB faz três movimentos incongruentes, para não dizer excludentes, entre si.
Primeiro, diz que é praticamente impossível conseguir unidade interna para integrar oficialmente uma chapa. Assume que ficará com um pé oposição e outro na situação.
Segundo, vai ao presidente da República e, a pretexto de reclamar das demissões de apaniguados na Infraero, traça um cenário dantesco para o governo em termos de alianças para 2010: segundo relato da direção do partido, a maioria dos diretórios de peso no País, São Paulo incluído, já fechou apoio ao PSDB em negociações diretas com o grupo do pré-candidato José Serra.
Terceiro, reivindica desse mesmo presidente um assento no núcleo de decisões do governo que se reúne toda semana para discutir estratégias políticas, o que, nesta altura, resume-se a planos eleitorais.
Ora, ou essas premissas são falsas ou o PMDB está convicto de que detém o monopólio da esperteza e que pode fazer gato e sapato da necessidade que o governo tem de armar boas parcerias para enfrentar uma eleição em condições bastante adversas.
Se o PMDB desde já reconhece que não estará de corpo e alma na campanha presidencial, com que autoridade pretende integrar um colegiado onde se tomam decisões que desenham os caminhos da campanha?
O partido até agora se assumia como um parceiro mais ou menos. Passou a se apresentar como um companheiro "menos", quando foi ao presidente dizer que suas principais seções regionais estão se acertando com o adversário.
Se é verdade, o mínimo que se pode concluir é que a cúpula, durante todo o tempo em que o partido se manteve na condição de maior aliado do governo, com seis ministros, presidências e diretorias de estatais importantes, deixou prosperarem as negociações entre os Diretórios Estaduais e o principal partido de oposição. Portanto, a menos que faça intervenções nas regionais, não há como desmanchar os acertos.
Se é mentira o que a direção do PMDB disse ao presidente Lula, deve haver algum objetivo. Como o cenário na conversa era uma reclamação por perda de cargos, o nome do jogo é chantagem. Nesse caso, a descompostura é a regra. E, faltando confiabilidade, nada garante que as concessões porventura feitas pelo governo terão alguma eficácia no tocante à disposição do PMDB de atuar como aliado fiel.
Não havendo fidelidade, por que mesmo o governo daria ao partido acesso ao núcleo de decisões políticas mais delicadas e estratégicas? O risco básico é tê-las transmitidas ao adversário.
Ademais, por que razão objetiva o PMDB haveria de querer agora, faltando um ano e meio para o fim do mandato de Lula, participar das definições e compartilhar informações sigilosas se até agora viveu bem sem isso?