Título: Ações já retornam ao nível pré-crise
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2009, Economia, p. B3

Alguns papéis valem mais hoje do que na véspera da quebra do Lehman

Leandro Modé

Com a forte valorização das últimas semanas, algumas ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) já superaram o preço em que se encontravam na véspera da quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, no dia 15 de setembro.

A ação preferencial (PN) da Petrobrás, por exemplo, valia R$ 31,48 em 12 de setembro, sexta-feira que antecedeu o pedido de concordata do Lehman - anunciado oficialmente em uma segunda-feira de manhã. Ontem, encerrou o dia cotada por R$ 32,17.

Outro papel que já recuperou com relativa folga as perdas do período foi o preferencial do Itaú, que saiu de R$ 29,82 para R$ 32,42, ontem. Os preferenciais do Bradesco também: foram de R$ 29,06 para R$ 29,51.

O principal índice da bolsa brasileira - Ibovespa - ainda não superou o tombo, mas está perto. Em 12 de setembro, fechou nos 52.392 pontos. Ontem, chegou ao fim do pregão em 51.499 pontos. Segundo analistas, não deve demorar muito tempo para chegar lá, porque os investidores estrangeiros (que lideram a disparada de 37,15% no ano) não dão sinais de que baterão em retirada nos próximos dias.

"Pelo que temos visto, a tendência de alta ainda tem fôlego", disse o gerente de pesquisas da Corretora Planner, Ricardo Tadeu Martins. "Os estrangeiros que entraram recentemente devem querer sair com a bolsa brasileira em níveis ainda melhores."

No acumulado do ano - até segunda-feira -, o saldo de investimento estrangeiro na Bovespa estava positivo em R$ 6,6 bilhões. Alguns especialistas defendem até a tese de que seria saudável se o mercado tivesse uma realização de lucros - movimento no qual investidores vendem ações que têm em carteira para embolsar ganhos.

"Durante uma realização, novos investidores aproveitam um momento de baixa dos papéis para entrar no mercado", explicou o economista-chefe da Corretora Souza Barros, Clodoir Vieira. Se esse "respiro" não vem, observou, esses aplicadores em potencial ficam temerosos com a possibilidade de que as ações estejam caras e acabam adiando as compras.

A entrada de estrangeiros é tão forte, lembra Vieira, que fez o volume de negócios da bolsa brasileira superar os R$ 7 bilhões em alguns dias desta semana. "É um nível que víamos em maio do ano passado, quando o Ibovespa atingiu a máxima de sua história."

Para o diretor da InvestPort Consultoria e Gestão de Recursos, Dany Rappaport, essa realização não ocorrerá tão cedo porque ainda há muito terreno para a recuperação das bolsas mundiais. "No exterior, as bolsas ainda estão negativas no ano (o Índice Dow Jones, por exemplo, recua 3%), não vejo uma realização no curto prazo", ponderou.

"Enquanto não houver realização lá fora, não haverá aqui, embora o desempenho da bolsa brasileira seja bem superior ao de suas pares internacionais", disse. Por isso, Rappaport afirmou que ainda não sugeriu a seus clientes que reduzam a exposição ao mercado acionário.

CAUTELA

Um relatório divulgado ontem pelo Banco Fator mostra que o Índice MSCI Brasil, compilado por uma divisão do banco Morgan Stanley, mantém a liderança do ranking dos principais mercados acionários mundiais em 2009, como o Estado já informou há duas semanas. Até ontem, a valorização do indicador no ano era de 44,1%, à frente do MSCI Rússia, com 41,6% e do MSCI Índia, com 24,3%.

Apesar do otimismo, a maioria dos analistas ainda prega cautela. "Os dados econômicos do Brasil e do mundo que têm sido usados para justificar as recentes altas dos mercados ainda são modestos", observou Martins, da Planner. "O investidor que tem vindo para o Brasil aposta nessa expectativa de melhora, mas não vejo razão para uma valorização tão rápida."

Vieira, da Souza Barros, também receita cautela. "Não se pode dizer que o crescimento (da economia) seja sustentável", observou. "Além disso, o estrangeiro que hoje entra com apetite pode sair de uma hora para a outra. Em um ambiente como o atual, não é difícil a bolsa cair 9%, 10% em um prazo curto."

NÚMEROS

R$ 31,48 era o valor da ação preferencial (PN) da Petrobrás um dia antes do pedido de concordata do banco Lehman Brothers. Ontem, o papel fechou cotado a R$ 32,17

R$ 32,42 foi o valor de fechamento da ação preferencial do Itaú ontem. No dia 12 de setembro do ano passado, o papel valia R$ 29,82

51.499 pontos foi o fechamento do Índice Bovespa ontem. No dia que antecedeu a quebra do banco americano, o principal termômetro da bolsa brasileira estava em 52.392 pontos

37,15% é a alta acumulada do Ibovespa em 2009

R$ 6,6 bilhões era o saldo de investimento estrangeiro na bolsa brasileira no acumulado no ano até a última segunda-feira