Título: Crise ainda não acabou, diz Meirelles
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2009, Economia, p. B4

Para presidente do BC, alta das bolsas é tentativa do mercado de antecipar a recuperação da economia dos EUA

Renata Veríssimo

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que a alta das bolsas nos últimos dias pode ser uma tentativa do mercado de antecipar o processo de recuperação da economia americana. Mas, segundo ele, é cedo para reconhecer alguma estabilização. Quanto ao Brasil, disse que tem havido recuperação, mas esse movimento não pode ser entendido como o fim da crise.

"O excesso de otimismo é perigoso e pode levar a uma decepção no primeiro dado negativo, no primeiro sintoma de que ainda há muito trabalho pela frente", disse o presidente do BC, ao participar de videoconferência promovida pela Confederação Nacional da Indústria para discutir a crise mundial e a recuperação da economia brasileira.

Meirelles lembrou que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, avaliou recentemente que a economia real americana vai piorar um pouco mais antes de melhorar. "Se ele estiver correto, o mercado está se antecipando bastante a esse processo de recuperação da economia americana", afirmou Meirelles.

Para o presidente do BC, não há dúvida de que o Brasil é visto como um dos países que sairão da crise na frente e já é um dos locais preferenciais para os investimentos estrangeiros. "O Brasil dá sinais de recuperação na margem, mas isso não quer dizer que acabou (a crise). Não podemos dizer que temos que nos preocupar com os problemas pós-crise."

Ao contrário do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já afirmou que o pior da crise já passou, Meirelles preferiu a cautela. Porém, ele lembrou que o mercado melhorou nas últimas semanas as previsões de crescimento da economia este ano. No relatório Focus, divulgado toda segunda-feira, a média das projeções das instituições financeiras indica retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,3% em 2009, ante 0,39% na semana anterior.

"O mercado está um pouquinho pessimista na sua previsão de crescimento da economia brasileira." Na última estimativa do BC, em março, a previsão é de alta de 1,2% do PIB.

Meirelles fez ainda um histórico das ações do BC desde o início da crise, como os leilões de dólares, para ajudar a combater a falta de crédito no mercado mundial sem afetar os níveis das reservas brasileiras, que continuam em mais de US$ 200 bilhões. Ele garantiu que o Brasil não pretende utilizar as linhas de crédito ofertadas pelo Fed e pelo Fundo Monetário Nacional (FMI). Também afirmou que a redução da taxa de juros é um processo em andamento.