Título: Lula pede pressa na solução para os juros da poupança
Autor: Samarco, Christiane; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2009, Economia, p. B7

Debate se arrasta há quase dois meses e os saques da caderneta têm superado os depósitos desde então

Christiane Samarco, Fabio Graner, Vera Rosa, Lu Aiko Otta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem à equipe econômica que apresse os estudos sobre as novas regras da rentabilidade da poupança. O debate vem se arrastando há quase dois meses - desde que o Banco Central (BC) acelerou o corte dos juros - e o governo não quer que os poupadores comecem a sacar o dinheiro por temer medidas futuras.

Em março, os saques da poupança superaram os depósitos em R$ 846,8 milhões. Em abril, até o dia 29, as perdas chegaram a R$ 2,323 bilhões.

Nas reuniões de ontem, os economistas do governo discutiram o pedido de Lula para que o valor poupado a proteger com a rentabilidade atual - variação da Taxa Referencial (TR) mais 6% ano - seja "mais alto" que os R$ 20 mil que chegaram a ser propostos no início dos debates. Ontem, o debate girou em torno do teto de R$ 100 mil - a ideia é deixar de fora da proteção especial não mais que 5% dos poupadores.

Segundo dados do BC, cerca de 93% dos poupadores têm menos de R$ 5 mil na conta. O debate sobe as regras da poupança foi destravado com a tendência de o BC fazer novos cortes na taxa básica (Selic) - hoje em 10,25%. A continuar no ritmo de cortes na casa de um ponto porcentual por mês, a caderneta pode virar uma opção de investimento mais atrativa que os títulos públicos - base dos fundos de investimento.

Em março, a poupança rendeu 0,64%. Os fundos de renda fixa, que renderam 0,91%, são grandes compradores dos papéis da dívida pública. Se houver migração maciça dos fundos para a poupança, o governo pode ter dificuldade de rolar sua dívida.

Protegendo até pelo menos R$ 100 mil, o governo avalia que pode conter o debate levantado pela oposição e ainda fazer o discurso de que, com a queda dos juros que remuneram investimentos mundo afora, o Brasil não pode permitir que a poupança seja usada por especuladores à caça de melhor rendimento. Ontem, após reunião com Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou passar uma mensagem tranquilizadora.

"Posso garantir a todos que têm dinheiro na poupança que o governo não tomará nenhuma medida que prejudique qualquer pessoa. Podem ficar tranquilos porque todos os rendimentos estão mantidos, não haverá nenhum problema, nenhuma ameaça para quem tem dinheiro na poupança", disse.

Da reunião com Lula participaram também o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o presidente do BC, Henrique Meirelles, o diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini, e o secretário extraordinário de Reformas Econômico-Fiscais do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. Segundo Mantega, não houve decisão sobre a poupança.

A dificuldade dos técnicos é encontrar uma fórmula que diferencie o poupador dos grandes investidores. Um auxiliar de Lula disse que o limite será "alto". Uma das hipóteses é tributar as aplicações maiores. Hoje, a poupança é isenta do Imposto de Renda.